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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

Quando os sorteios da UEFA ainda não se tinham transformado no evento formatado para os burocratas da bola que são hoje, ser “enviado especial” a Zurique para acompanhar o pontapé de saída das competições europeias era uma oportunidade rara e soberana para a carreira de qualquer jornalista desportivo. 

Em nenhum outro momento era possível reunir à mesa, no então chamado jantar dos presidentes, os líderes do futebol português Fernando Martins, Pinto da Costa, João Rocha, Valentim Loureiro, Pimenta Machado, os primeiros empresários, Manuel Barbosa e Lucídeo Ribeiro, o presidente da FPF, Silva Resende, e os jornalistas, com realce para o João Alves da Costa.

Confesso uma indisfarçável nostalgia nesta evocação por dois motivos nobres que a própria UEFA destruiu ao transformar as competições de clubes no negócio que hoje é: o destaque premiado aos melhores de cada país e a convivência entre dirigentes, jornalistas e às vezes treinadores de todos os países em encontros informais sem o verniz das galas para elites.

Quando se assiste agora aos sorteios de pré-pré-eliminatórias, 2ª pré-eliminatória, 3.ª pré-eliminatória, e, em exclusivo surreal da UEFA, a playoffs antes de começarem as competições propriamente ditas, entende-se que isto nada tem a ver com a essência destas provas, agora sexagenárias como eu.

A necessidade de distribuir o excesso de lucros que os direitos televisivos estão a gerar, contentando as federações menores com uma parte do bolo, criou este monstruoso “verão de malucos” que faz movimentar dezenas e dezenas de clubes nestes 45 dias de Julho e Agosto, quando os melhores jogadores ainda estão de férias, em disputas cuja única consequência desportiva é provocar dissabores e graves problemas de equilíbrio para resto da época aos clubes grandes inadvertidamente envolvidos, como acontece com o Benfica na Champions e com o Braga na Europa League.

Nos bons velhos tempos, todos sabíamos quem eram os campeões, quem eram os vencedores das Taças e quais tinham ficado nos lugares de honra dos respectivos campeonatos. Não havia campeões faz de conta como acontece com mais de metade dos participantes na Liga dos Campeões actual. Era inimaginável alguém estar a assistir a um sorteio sem saber se determinado clube é campeão ou está de favor, como me interrogava eu perante o desfilar de emblemas no sorteio de hoje.

Parece-me necessário (e inevitável) que a UEFA regresse ao seu lugar de confederação continental e se concentre na parte desportiva que é a sua razão de existir. A UEFA tem de voltar a promover uma prova só com os campeões de todos os países e deixar a organização de uma Superliga comercial aos próprios clubes. 

No fundo, sinto saudades do tempo em que, no primeiro sorteio, se usava a designação de “pêra doce” para quase todos os adversários iniciais dos clubes portugueses. Agora, não há pêras doces, só ovos de ouro.