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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

16 Abr, 2023

Roger and out

EFABLAÇÃO (25)

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Fim do voo do “Águia 38”, missão cumprida, o piloto pousa os comandos, vai desligar as comunicações, ouve a última indicação da torre de controlo e suspira o derradeiro “Roger and out”. 

Esse parágrafo estava “reservado” para uma semana de Maio no caderninho de trocadilhos oportunos dos fazedores de manchetes da imprensa desportiva. Seria um epílogo poético para a extraordinária época do Benfica de 2023, uma variante aeronáutica ao estafado “Rogerball”, uma forma irónica de encerrar uma batalha tão definitiva como a despedida triunfante de um piloto de Spitfire depois de mandar abaixo meia dúzia de Messerschmitts.

“Roger and out” - o que parecia adquirido, tranquilo e antecipadamente festejado há poucos dias transformou-se subitamente em “looping” turbulento a puxar a nave encarnada para uma queda livre - a angústia pavorosa de antever o que seria um final feliz transformar-se num voo picado de “kamikaze” a ameaçar despenhar-se numa crise inexplicável, num “Roger e rua!” 

A expressão nasceu da letra R, de “resolvido”, nos primórdios da aviação como código de comunicação para pilotos e controladores de línguas diversas. Embora a fonética correta do alfabeto militar seja “Romeu”, o “Roger” é muito mais utilizado, por mais expressivo e pungente. “Roger and out” traduz melhor uma saída tranquila, mesmo em caso de melodramática chicotada psicológica, do que um “Romeu" shakespeariano, patético e lúgubre.

Por exemplo, para os benfiquistas em controlo do campeonato, “Roger that” significava ok, entendido, fim de conversa, siga para o Marquês.

Quando se diz que a linguagem do futebol é universal, para exprimir que um treinador não precisa de falar português para ser bem entendido por qualquer jogador, dirigente ou adepto, dentro e fora das quatro linhas, é bem claro que significa ganhar, fazer ganhar e saber ganhar. 

E enquanto ganhava, Roger Schmidt era brilhante, fantástico, inquestionável, falava muito bem inglês. Agora, após três derrotas, parece uma caricatura com sotaque.

Na memorável ficção ”Alô Alô” havia um personagem chamado Roger, Roger LeClerc, um agente clandestino que se disfarçava toscamente em cada episódio mas sempre se denunciava dizendo, “sou eu, o Roger”, não fosse algum dos camaradas não o reconhecer e tomá-lo por inimigo. 

Ora,  este Roger “Herr” Schmidt, disfarçado de piloto errático da dramática “pièce de résistance” que é a fase final de uma época de futebol, após uma longa sequência de batalhas terrestres e aéreas nos campos de Portugal e da Europa, também encarna um personagem irreconhecível, ausente, mesmo no ponto para ouvir a célebre sentença de uma qualquer Michelle da Resistência encarnada:

“Renè, perdão, Roger, ouve com muita atenção, só vou dizer isto uma vez: 

Alfa-Charlie-Oscar-Romeu-Delta-Alfa”.

 

Foto Reuters

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