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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

24 Mai, 2023

O valor de um nome

HISTÓRIAS SEM INTERESSE NENHUM (7)

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Sempre que as pessoas mostram estranheza ou treslêem o meu nome, respondo “sim, é Manha, mesmo”. Faço-o desde que me conheço, com o orgulho de uma família e antepassados de grande tradição numa comunidade cujo lema é “Honra teus Avós”.

Ninguém escolhe a família onde nasce nem o nome que o distinguirá. Podia chamar-me João da Silva, ou João Afonso, ou João Carreira, ou João Dias, ou João Capaz - isto ponderando apenas três gerações numa terra anterior à nacionalidade. E o orgulho seria igual, porque todos esses apelidos carregariam a mesma herança genética de valor incomensurável e infinito. 

Mas os meus pais escolheram juntar dois apelidos também cheios de história e de significado. Os Querido, de Mira de Aire, e os Manha, de Minde. E eu tive tempo para me habituar, primeiro ao Querido, demasiado delicado para o meu gosto, e ao Manha, demasiado explícito para o meu feitio. Mas habituei-me, até com a ajuda de um correctivo socialmente condenável pelos educadores de hoje: “João Manha, quando faz mal, apanha” - deve ter sido a primeira cantilena que aprendi e que me balizou a vida até ao sexagenário.

O nome profissional Querido Manha, com as iniciais QM, foi-me atribuído no estágio na ANOP em 1978 e assentou-me bem. Ficou.

Quando as pessoas não me conhecem, mas simpatizam chamam-me Manhã. Quando me conhecem e antipatizam chamam-me Manhoso. Os primeiros acham graça e brincam, os segundos acham-se superiores e insultam- como aconteceu nos últimos dias com a casta dos adeptos de determinados clubes irritados com um escrito da minha liberdade intelectual.

Como diz o outro, são (mais de) 40 anos disto. 

Quase todos os dias há um imbecil, ou vários, que se deslumbra com a epifania de avaliar o meu carácter e integridade através do bilhete de identidade, sem pejo de alardear publicamente a sua boçalidade e ignorância.

A todos respondo da mesma forma: “é Manha, mesmo”. E, quando estou bem disposto, ainda acrescento que “manhosa” em calão minderico, a língua dos meus extraordinários antepassados, é o nome para o animal silvestre reconhecidamente mais inteligente das serras de Aire e Candeeiros, a raposa.

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