06 Mai, 2024
O Factor G (3.ª parte)
G de Gyökeres e de Golo é o factor que determinou a diferença, quer em relação à valia global da equipa, ajudando vários jogadores banais a ganharem volume em quantidade e em qualidade, fazendo subir vários níveis o plano colectivo, quer sobretudo em relação à concorrência, reduzindo à vulgaridade os diversos e bem dispendiosos homens-sem-golo contratados pelos principais adversários.
Entre finalizações e assistências, Gyökeres é responsável por um terço da eficácia do Sporting e, contando todas as frentes de competição, tem mais do dobro da faturação do terrível trio Tengstedt-Arthur-Leonardo. É ele o factor diferenciador para o desnível de 92-71 em golos, mais 21 em 32 jornadas, que o Sporting cavou em relação ao principal adversário.
Mas, mais do que as concretizações, o que desde cedo o distinguiu foi a capacidade de se haver sozinho na frente de ataque, com um vigor e um discernimento com bola que só estamos acostumados a ver em jogadores de nível superior. O treinador inventou para ele uma táctica revolucionária do passe e repasse “a partir de trás” que se tornou no alfa e omega dos treinadores da moda, a qual consiste simplesmente num pontapé comprido desde a extrema defesa e no controlo, arranque e remate, tudo a solo, pelo predador sueco.
O ovo de Colombo de Rúben Amorim.
Difícil de marcar, quase impossível de parar, um pesadelo para treinadores e defensores adversários, dada a profundidade e vasta latitude das suas ações.
O mérito do Sporting e dos seus responsáveis assenta na procura, aquisição e acomodação deste jogador, como pináculo de um processo, a peça que faltava num puzzle em montagem há alguns anos. E este é um mérito raro nas direções futebolísticas nacionais, sempre à mercê dos interesses dos agentes intermediários e da pressão mediática, que os levam a elevada percentagem de erros de “casting” e a estipêndios absurdos e sem correspondência à qualidade dos artistas.
Mais determinante ainda no panorama nacional se afigura este Factor Gyökeres quando sabemos que era um jogador na montra de um campeonato de alta visibilidade como o Championship inglês, considerado o “sexto” membro das “Big Five” Ligas europeias, e que terá sido visto e revisto pelos olheiros do Benfica em mais de 30 jogos do Coventry, qual “kungsörn”, a águia real da Suécia que acabou preterida e trocada pelo leque de inofensivas “avis vulgaris” colocadas ao dispor de Roger Schmidt por módicos 45 milhões nas últimas duas épocas de “reforços”.
Quando um dia se escrever a pagela desta temporada, alguém vai dizer, resumida e expressivamente, que foi no ano em que Gyökeres transformou Nuno Santos num novo Di Maria.
(fim)