O carisma de Rui Vitória
Se fosse boxe, Rui Vitória estaria ainda de pé ao fim dos primeiros seis assaltos dos sete que constituem o combate mais importante do ano. Depois de mais uma ida ao tapete com contagem de protecção frente a um adversário muito debilitado, como o Sporting, o Benfica ainda vai com força e vontade para a batalha de Salónica. Mas está a perder aos pontos e tem de tomar a iniciativa de atacar um adversário, notoriamente mais fraco do ponto de vista técnico, táctico e, até físico, sem esquecer o do talento, mas muito manhoso.
Por vezes, Rui Vitória transmite a ideia de ser demasiado ingénuo para um cargo tão escrutinado como é o de treinador do Benfica. Noutras, deixa perceber que não entende a plenitude do jogo, quando este lhe exige medidas diferentes das que planeou no seu gabinete ao longo da semana. E passa, quase sempre, um discurso confuso e pouco objectivo, no tom, na forma e no conteúdo, com subentendidos e alusões mais ou menos vagas que não atrasam nem adiantam.
Na verdade, é uma questão de carisma. Ou se tem e tudo corre sobre rodas, mesmo nos momentos de insucesso, ou não se tem e se enfrenta a vida com cara de pau, lutando contra os elementos, sempre na iminência de ser levado nalguma enxurrada.
Ouvir os comentários sobre José Mourinho nas televisões portuguesas, por exemplo, ajuda-nos a perceber bem a diferença entre ter carisma e não ter. Quando perde, é obviamente por causa dos erros individuais dos jogadores. Quando empata, vê-se bem que a equipa não assimilou as suas directrizes. Quando ganha, bem, quando ganha é brilhante como sempre.
Agora vejamos Rui Vitória: se perde é um azelha, se empata não tem liderança para fazer a diferença, se ganha não faz mais do que a obrigação.