Respeito os primeiros, mas identifico-me com o segundo grupo, por considerá-la decepcionante quando comparada com todas as que presenciei e de que me lembro, em mais de 50 anos.
Esquecendo um Dionísio ridículo e um Apolo antenado, ambos com peso a mais, uma pessoa barbada que talvez menstrue e uns anões de salto alto, uma Antonieta decepada e um cavaleiro que nunca mais chegava ao Apocalipse, só me vou recordar do improvável encontro entre os deuses Nadal e Zidane e de uma Cèline Dion miraculosa e divina.
Tudo o resto foi chato, arrastado, penoso, repetitivo e encharcado. Um festival de gosto discutível, com uma excelente banda sonora, por um lado, mas um fraco uso das tecnologias cinematográficas, por outro, embora com a desculpa da chuva persistente.
Atravessar meia Paris para acender um balão foi a cerimónia da pira menos imaginativa de que me lembro, o que se repercutiu nos milhares de Xuítes nostálgicos com o vídeo do arqueiro de Barcelona que as redes sociais ressuscitaram por estas horas.
A ideia de usar o rio Sena era boa, mas perdeu o sentido quando a segurança afastou os parisienses da festa prometida: ruas vazias e sombrias na Cidade-luz, como nos longos minutos da chama a caminho do Louvre, é um roteiro completamente incompreensível e falhado.
Estive na Cerimónia de Encerramento dos Jogos de Sydney, a primeira realizada no centro de uma cidade, com mais de um milhão de pessoas na rua sem pagar bilhete. E lamento garantir que os “aussies” sabem montar uma festa muito melhor que os franceses. C’est ridicule, mes amis!
A ideia de que os Jogos Olímpicos têm de parecer “inclusivos” é uma afronta a mais de um século de comunhão universal através do desporto. Parece até um complexo de culpa dos dirigentes políticos relativamente ao passado racista, discriminatório e elitista dos fundamentos originais do Olimpismo moderno, a começar pelo Barão de Coubertin, mas que os atletas contrariaram milhares de vezes nas arenas da competição - sobretudo depois de Jesse Owens, o verdadeiro “criador” dos Jogos da Era Moderna.
Os dirigentes olímpicos nunca tiveram pruridos em figurar ao lado dos piores facínoras, de Hitler a Putin, passando pelo branqueamento da União Soviética e da China. Agora acotovelam-se para embarcar no “bateau mouche” arco-íris e desfilar alegremente no “freak show” do grotesco e das aberrações que tentam roubar o espaço e ofuscar a beleza das plumas do Moulin Rouge.