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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

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Talvez seja um exagero comparar um mero relvado de futebol com os incontáveis hectares do aterro de Beirolas, um estádio com uma Sé, um espectáculo desportivo com uma missa campal, a passagem meteórica de uma estrela da bola com uma visita histórica do Papa católico.

Mas, dizem os “crentes”, benditos os milhões que os dirigentes do Benfica do começo do século decidiram investir na edificação do novo estádio da Luz, a pretexto do Euro-2004, tantas foram as “missas” memoráveis lá celebradas todos os anos, pois todos os pontífices do belo jogo deste século por lá passaram.

Todavia, muitos verberam a incapacidade de o clube manter nas suas fileiras o cometa Enzo Fernandez, mais um jogador vendido por uma verba absurda ao fim de meia dúzia de meses de missão pastoral, porque o Benfica é incapaz de reter valor e o estádio da Luz não passa de uma plataforma de negócio, tal como o jovem argentino identificara ao chegar a Lisboa no verão. 

Estrutura imponente e emblemática, com os seus 60 mil lugares para coros afinados, padres, bispos e arcebispos, e visitantes de outras crenças, é hoje o altar-mor dos vendilhões da bola. De cada vez que ali acontece uma celebração futebolística, alguma aparição divinal, dá-se o milagre da reprodução do investimento, sempre abaixo dos valores reais, mas de enorme repercussão mediática, para fortalecer o poder de quem o exerce e consolidar a alienação dos fiéis anónimos.

A “Catedral” é, vinte anos depois, um dos mais carismáticos palcos dos “mercados” de verão e de inverno, autênticos festivais do negócio do futebol.

Desta vez, foi o meteoro Enzo que cruzou o mundo à velocidade da Luz - em 29 jogos, 4 golos e 7 assistências - com o chamado “manto sagrado”, para se valorizar exponencialmente.

O desfecho satisfaz todos os que se contentam com os troféus e medalhas do transfermarkt, frustra os que desejavam pelo menos uma época de estabilidade na equipa e indigna os que não se resignam com a política de import-export do “vieirismo”.

Dos 121 milhões da maior compra de sempre da Premier League, o Benfica cede mais de 44 milhões ao River Plate, somando o inicial ao complementar, quase cinco milhões dos mecanismos de solidariedade e quase oito milhões de comissões - um verdadeiro absurdo para uma transação ditada pela procura -, pelo que o lucro desta operação será de aproximadamente 65 milhões, muito dinheiro num negócio feito em seis meses, mas bastante abaixo do que sugere o valor global da “cláusula de rescisão”.

Na linha do seu mestre, o presidente Rui Costa encenou uma brilhante opereta de resistência ao assédio do Chelsea, transportando para os últimos minutos do prazo de transferências uma venda que nunca esteve em causa. Mais uma vez, os vendilhões do templo facturaram à tripa-forra, elevando para mais de 10 milhões de euros os “custos” de intermediação proporcionados pelas duas transferências do jogador argentino em menos de um ano.

Os “coordenadores” do altar de Beirolas também tentam convencer-nos de que aquele mamarracho irá ser palco de regulares ajuntamentos de um milhão de pessoas e que o país, crente ou agnóstico, deve pagar o futuro benefício dos promotores dos festivais de verão e de inverno, à imagem dos agentes FIFA nos mercados da bola.

Acredite quem precise. 

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