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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

17 Jul, 2024

Nascer de novo


O campeonato da Liga contra o Cancro só se vence com uma boa táctica, disciplina, organização, técnicos de classe superior e o apelo à qualidade humana mais intrínseca que é a resiliência.



O amor, atenção e incentivo de quem nos rodeia, os nossos adeptos mais fiéis, também dão uma enorme ajuda a manter um espírito optimista.

Cheguei hoje ao fim da primeira época com uma vitória retumbante sobre dois adversários monstruosos, que tentaram apanhar-me de surpresa, mas sofreram uma tareia das antigas, graças à objectividade e eficácia de um “espalha-brasas” chamado Braquiterapia.

Seguem-se algumas épocas para usufruir deste título raro, a vida, partilhando uma história de sucesso que é o b-a-ba da estratégia obrigatória para qualquer homem com mais de 50 anos.

O primeiro jogo é o mais fácil: uma análise aos níveis de PSA a cada seis meses (sobretudo para quem tiver outra patologia, como a diabetes) ou, no máximo, anual.

Se houver derrota, mesmo que tangencial, passar logo à segunda jornada, a consulta ao urologista, que, primeiro, nos “humilha” com aquela jogada de penetração que fez a Alemanha perder a guerra, antes de nos confortar com a necessidade de um segundo olhar, porque nada está perdido.

Segue-se a Ecografia, da Liga dos últimos. Um jogo facílimo que abre perspectivas: o sacana está lá mas é dissimulado. Urge não lhe dar tempo nem espaço para crescer, ao estilo dos antigos “15 minutos à Benfica”.

Termina com resultado positivo, mas ainda sem desfecho absoluto e envia-nos para um terreno hostil, um autêntico “alçapão”, a Ressonância Magnética, que só conseguimos ultrapassar se ficarmos quietinhos durante meia hora, acumulando os cartões amarelos do técnico da máquina a cada esgar ou comichão.

A RM, como é conhecida na gíria dos balneários hospitalares, pode ter um resultado inesperado como, por exemplo, revelar dois monstrinhos onde os “olheiros” só tinham visto um.

Mas é uma partida fundamental para os desafios seguintes, ao jeito do GoalPoint, com as análises digitais e os mapas de calor demarcando as manhas do adversário, indicadores que os pontas de lança da Braquiterapia hão de seguir à risca nos seus raides cirúrgicos e decisivos.

Depois do suor e de algumas lágrimas, o nível de exigência sobe, então, para o campo do sangue derramado: a terrível Biópsia em que um homem de mais de 60 anos é confrontado com a primeira anestesia geral da vida. Ganha-se sem mexer uma palha e não se ouve aquele intimidante e irritante “falta só um bocadinho, fique quieto” da jornada anterior. No fim, dão-nos chá e bolachas como prémio de jogo.

O resultado da Biópsia demora tanto a sair como as decisões do Conselho de Justiça e ficamos mais de um mês para saber se vamos à final ou não, até àquele veredicto “malignos”, que não deixa margem a recurso. Pois, o que é mau sempre se torna péssimo e a (des)qualificação para a Supertaça acaba por chegar: é de grau 5 o calibre do adversário. Não há pior, é preciso enfrentá-lo de imediato com toda a energia e determinação.

Marca-se o grande dia, fazemos a mala para um estágio mais prolongado e avançamos. A equipa recebe o reforço do tal Chico Conceição americano e objectivo, em forma de bagos de arroz radioativos que vão para cima dos adversários sem dó nem piedade, deixando-os esgazeados durante três meses até à rendição absoluta.

A vitória é tão impressionante como a simplicidade de um “correu tudo bem” ter o impacto de um “nasceu outra vez”, no fim de um processo que também durou mais ou menos nove meses.

Hoje, recebi a homologação do título: sou campeão da luta contra o cancro, a batalha mais complicada de um percurso cheio de desafios, pois, como dizem os sábios da bola, “a vida é isto mesmo”.

Seguem-se anos para desfrutar, vigilante, sempre atento aos movimentos traiçoeiros do inominável.

Não passará!

Agradeço penhoradamente à minha equipa técnica, os doutores Frederico Ferronha, Joan Cortina e Henriqueta Abreu, ao meu clube, a Casa da Imprensa, e ao patrocinador principal, a AdvanceCare. Agradeço à minha claque fervorosa e presente, em especial a Paula e a minha irmã Leonor, pois sem elas não teria sido possível.

E viverei para lembrar todos os homens de 50 anos ou mais velhos: controlem regularmente o PSA. Em média, um em cada seis homens será diagnosticado com cancro da próstata ao longo da sua vida, mas se for atacado a tempo deixa 90 por cento de hipóteses de triunfo.

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