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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

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Pelas televisões do mundo inteiro desfilam comentadores falando sobre Pelé. Sinal dos tempos, não ouço ninguém com mais de 60 anos, que podiam ser os que o viram jogar, ao menos no Mundial de 1970. Mas toda a gente o conheceu, toda a gente sabe a história, toda a gente o tinha como seu, que ele chegou a ser uma marca reconhecida por 95 por cento dos humanos, com biografias escritas ou traduzidas em mais de cem línguas. Por isso, tenho muito pouco a acrescentar.
Vamos ler as histórias de almanaque, do pequeno engraxate de Bauru ao heróico Cabo Luis Fernandez da “Fuga para a Vitória” de Hollywood, passando por alguém que não foi além da instrução primária e chegou a ministro de um dos maiores países, as páginas da wikipedia e as buscas do Google vão alimentar até à saturação horas de informação, pormenores e estatísticas.
Quando se fala de “lenda” do futebol, a dimensão é esta: todos conhecem o que nunca viram, quer estejam em Três Corações, quer em Nova York, quer em Lisboa. É um património da memória universal, cósmica.
Eu só vi Pelé jogar nos Mundiais de 1966, onde fez três jogos fracos e acabou lesionado por uma marcação - chamemos-lhe assim - impiedosa de Vicente Lucas, e de 1970, pelo menos nos jogos com a Inglaterra, com o Peru, com o Uruguai e com a Itália. Alguns mais velhos que eu tiveram a felicidade de o ver no estádio da Luz, pelo Santos. Depois foi para os Estados Unidos e virou as costas à Europa, uma decisão absurda para quem tinha o Mundo aos seus pés.
Muito mais tarde, tive a sorte de o conhecer e partilhar duas horas da sua vida real, antes do Mundial de 1990, quando veio a Portugal através de uma marca que o patrocinava desde que emigrara para os Estados Unidos, trazido por um dos atuais gurus do marketing desportivo internacional, Tony Signore. Fui escolhido para fazer uma entrevista conjunta com o meu amigo José Carlos Freitas, não pelos meus méritos mas porque trabalhava então num jornal de referência como o Expresso e preparava-me para a cobertura do campeonato do Mundo em Itália.
Falámos do futebol em geral, da ausência de Portugal desse campeonato marcante, de Eusébio e do Benfica, de Vicente, do poder da selecção brasileira, então com Mozer, Valdo e Ricardo Gomes, da FIFA, do futebol nos Estados Unidos. Uma conversa de bola com o Rei da bola, partilhada nessa semana com os leitores do jornal, de forma efémera, mas alojada na minha memória para sempre, como poucas: o que os jornalistas fazem para obter as informações que passam aos leitores é o seu tesouro, o seu património secreto.

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Por vezes, desses encontros fica uma fotografia, um autógrafo, um objeto, que também raramente partilhamos, como um troféu que só a nós diz respeito. É o que eu tenho de Pelé e que mostro aqui pela primeira vez em mais de 30 anos: um autógrafo ao tamanho A4 na primeira página do 5.º volume da Enciclopédia Mundial Del Fútbol e mais uma assinatura sobre a sua fotografia na página 140, onde começa o artigo especial sobre ele.
Simbolicamente, este autógrafo imortal é a garantia de que, sendo um dos meus heróis, nunca me deixará. Há dias, descobri que tinha sido ele o inventor da “paradinha” na marcação das grandes penalidades, mais tarde proibida pela FIFA, o que me surpreendeu por nunca ter ouvido falar de um penálti à Pelé, como o “à Panenka” por exemplo. Mas hoje mesmo, horas antes da notícia brutal, chegou-me um video com cerca de 60 anos, que vale muito a pena ver, com o humorista Golias e o igualmente imortal Jô Soares, que também nos deixou neste ano, precisamente sobre o intrincado problema da “paradinha”: https://www.facebook.com/watch/?v=246914453503290
E, meu grande Edson Arantes do Nascimento, é isso aí: você não morreu, foi apenas uma “paradinha”, antes desse último golo para a eternidade.