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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

18 Jun, 2023

Não chora, bebé!

EFABLAÇÃO (35)

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Otávio vai entrar em campo, absorto, como se levitasse numa realidade paralela. Ouve o  3.° Anel irromper em aplausos, num entusiasmo indescritível, uma manifestação inclusiva e de paixão incondicional pelo jogador da seleção como raramente se vê nos estádios portugueses.

Por momentos, fica perturbado, não esperava esta recepção, não está habituado a demonstrações de carinho em locais normalmente hostis, como o “salão de festas” dos portistas. 

Dias antes, tinha dito numa “Live” para os compatriotas do Rio Grande do Sul, no meio de umas gargalhadas gostosonas, que iam fazer-lhe no estádio da Luz o mesmo que ao coninhas do João Mário no Alvalade: “os cara gosta mesmo de mim lá na Mouraria, odeiam-me. É tão bacana”. 

Quando, de olhos fechados, absorvia aquela explosão, afinal feia, porca e má dos adeptos comuns de Portugal, conseguiu distinguir um som que o trouxe das nuvens ao tempo e ao espaço reais. 

Da bancada, no meio daquela algazarra, alguém grita um “não chora, bebé”, que lhe assenta como a chapada que muitos atletas precisam no último momento antes de entrarem em ação, cem por cento focados.

Uma pessoa, só uma no meio de 60 mil, passa-lhe a palavra-passe de estabilização, motivação e identidade que devolveu o espírito do jogador guerreiro indomável à sua essência.

Oh, que bom! Não eram aplausos, eram assobios, vaias, urros - tudo o que desperta, excita e injecta o sangue nos olhos de Otávio, antes de cada jogo de vida ou morte.

“Quanto mais nos odeiam, mais nos motivam”. As perseguições centralistas são combustível para o monstro competitivo e avassalador dos 40 anos disto.

O episódio, banal para o nosso Dennis Rodman gaúcho, despertou, contudo, o coro de hienas ofendidas, que não dispensa uma boa “polémica” clubística e juízos de valor sobre os bons portugueses e os maus. 

Baseiam-se no “odi profanum vulgus” de que quem não se ofende não é boa gente, ao contrário do próprio Otávio, por certo um impávido marcelista, a quem não ofende quem quer.

Entra-lhe por um ouvido e sai pelo outro - como muito bem se apressou a explicar o departamento de truncagens do FC Porto numa imagem que “diz tudo”:  desprezar o juízo dos néscios e valorizar a opinião dos sábios.

A pose de rufia assenta que nem uma tatuagem de “amor de mãe” no braço do combatente e empresta à seleção nacional o espírito de conquista da nação valente, aquele permanente apelo “às armas, às armas”, que há-de guiar-nos às vitórias.

“Ssssssssssi!”

“Buuuuuuuu!” 

Vai Otávio, dá-lhes como se não houvesse amanhã, Portugal está contigo!

 

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