04 Nov, 2022
Luís Figo, do ouro à ourivesaria
A experiência acumulada pelos melhores jogadores portugueses na grande universidade do futebol formada pelos principais clubes europeus é um certificado de habilitação.
Os relacionamentos pessoais acumulados com todos os grandes protagonistas do futebol internacional dos últimos 30 anos colocam-nos no topo de uma rede de facilitação e poder, aproximando os clubes nacionais aos centros de influência.
A popularidade à escala mundial garante-lhes a base política que nenhuma campanha seria capaz de construir por qualquer construtor civil ou vendedor de fogões.
Luis Figo difere dos antigos companheiros por nunca ter querido regressar a Portugal, o que o “habilita” mais a um cargo internacional e, claro, por ter concretizado uma carreira empresarial de sucesso em áreas tão diversas como a mineração ou a hotelaria, sem esquecer um trabalho meritório no fomento do futebol através de uma Fundação.
Todavia, quando admite a ambição de ser presidente do seu clube em Lisboa, suscita curiosidade mórbida sobre a reação dos anti-corpos gerados pela aparente indiferença com que respondeu a anteriores apelos, em momentos desesperados.
Ao contrário de Rui Costa no Benfica ou de Baía no Porto, Figo arrisca ser, inicialmente, mais um foco de divisão do que de união, embora o seu interesse no cargo de Frederico Varandas, num momento de enorme pressão, não lhe retire legitimidade. Contudo, teria de marcar a diferença pelo projecto, enquanto aos outros basta o nome e o autógrafo e ninguém lhes exige algo de extraordinário, como auditorias, estatutos ou ‘fair play’ nas finanças, mas somente vitórias sobre a relva.
Arrisco pensar que teria mais hipóteses na UEFA ou na FIFA do que no Sporting, mas a oportunidade num momento de desespero leonino pode reabrir-lhe a porta de Alvalade.
A quem arcou com tantas decisões fracturantes e arrostou mais de vinte anos com a alcunha de “pesetero”, não há dúvida de que lhe sobram força e “killer instinct” quando se trata de negociar, enfrentar adversários poderosos e assumir posições controversas.
Dele, de longe o mais bem sucedido negociante da geração de ouro, ficou para a eternidade aquela denúncia pungente após a meia-final do Europeu de 2000 perdida na mão de Abel Xavier: “Já não há verdade; o futebol é um negócio”.
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