Lufada de ar fresco
HISTÓRIAS SEM INTERESSE NENHUM (3)
Diz Cristiano Ronaldo que o novo seleccionador nacional, Roberto Martinez, representa uma “lufada de ar fresco” no seio da selecção portuguesa depois dos tempos de ar quente de Fernando Santos.
Nunca um só jogador, dos cerca de cem que passaram pela equipa nacional nos últimos oito anos, se queixou do ambiente. Pelo contrário, aquilo era uma “uma espécie de lar, uma família no bom sentido da palavra”, segundo a descrição do próprio treinador, há alguns meses, antes do Mundial.
E há três anos, na última entrevista que concedeu a uma televisão portuguesa, embora um dos entrevistadores não fosse jornalista, já Cristiano Ronaldo tinha realçado que "o ambiente na seleção é espetacular”, graças a Fernando Santos e ao presidente da Federação, Fernando Gomes, os cérebros da solução FEMACOSA.
E agora, em dois ou três dias de vivência e dinâmica revigoradas, as coisas estarão ainda melhores, um arzinho fresco que embala a selecção na sua ligação com o noivo espanhol, contrariando a ancestral maldição que a desaconselharia: nem bom vento, nem bom casamento, diziam os sábios.
A saída do anterior seleccionador só pecou por tardia, pelo que, fosse quem fosse o sucessor, a mudança seria sempre esperançosa. Martinez vem de uma experiência interessante à frente da selecção da Bélgica, os jogadores são bons, as condições são óptimas - é fácil prognosticar mais uma campanha positiva, uma velocidade de cruzeiro garantida pela sequência geracional que injecta sangue fresco e talento renovado em cada ciclo.
Ou seja, o que era espectacular continuará a ser espectacular. O que era uma família continuará a ser uma família. E os jogadores que, segundo os jornalistas, estariam “fartos de Cristiano Ronaldo” no Mundial do Qatar continuam todos na seleção…
Sempre que ouço a expressão “lufada de ar fresco”, para definir aquele “não sei explicar” que se sente mas não se vê, como diz Cristiano Ronaldo, ocorre-me que o “fresh air” é um dos maiores pesadelos dos praticantes de um desporto que é uma metáfora da vida, entre o que se sonha e o que se alcança, a ficção e a realidade, o golfe.
“Fresh air” é quando o taco passa pela bola, sem a tocar ou mover, uma pancada virtual que se contabiliza mas não se aproveita, uma espécie de “pontapé na atmosfera”, a tal “lufada de ar fresco” que representa a mudança necessária para que tudo fique na mesma.
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