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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

Acompanho com muito interesse a ida de Jorge Jesus para o Flamengo: um dos melhores treinadores do Mundo, obcecado pelo trabalho organizativo, num ambiente caótico e sob pressão de um frenesim mediático que por vezes condicionam ou impedem jogadores e equipas de atingirem os limites dos seus talentos.

Jesus tem a mesma expectativa de uma criança em véspera de exploração de um parque temático, com a diferença de que nada do que o espera será surpreendente, depois de tantos anos de madrugadas perdidas a ver o PFC.

Sempre achei incompreensíveis as críticas ao jogo no Brasil, atendendo a que não existe qualquer grande equipa na Europa que não possua um, dois ou mais jogadores brasileiros: como pode ser mau o campeonato de onde vêm os melhores jogadores? 

Quem passar a assistir às partidas do Brasileirão vai ver que são intensas, emocionantes, de desfecho incerto e quase sempre espectaculares do ponto de vista técnico. Faltar-lhes-á o rigor do jogo europeu, por desactualização dos seus principais treinadores, que começaram por perder o mercado internacional e agora são igualmente ultrapassados internamente: evoluídos no preparo físico, mas ingénuos na montagem táctica.

Em todo o Mundo, os bons treinadores fazem a diferença e o Brasil segue a tendência, aceitando pagar pelos melhores a valores dos principais mercados. Não foi à toa que, em menos de um ano, Luis Felipe Scolari converteu a equipa mediana do Palmeiras em campeã e praticamente imbatível a nível interno. Ou que, em quatro meses, Jorge Sampaoli tenha transformado o desvalorizado plantel do Santos numa das melhores equipas do país.

Organização, planeamento, gestão de recursos e modelo táctico e organização colectiva sempre acima dos interesses individuais dos jogadores sem cercear os maiores talentos, tudo acompanhado de uma carteira para contratações selectivas - eis o segredo de Scolari, eis o planeamento de Sampaoli (excepto na parte do investimento), eis a estratégia de Jesus.

O primeiro Jesus-Scolari (Flamengo-Palmeiras) está marcado para 31 de Agosto, o primeiro Jesus-Sampaoli (Flamengo-Santos) para 14 de Setembro. Neste momento, o Palmeiras comanda a classificação, o Santos é 3.º e o Flamengo 4.º, com o Atlético Mineiro na 2.ª posição com um treinador interino.

Como disse Jesus à partida para o Rio de Janeiro, é no Brasil que estão os melhores jogadores do Mundo e é no Brasil que se disputa o campeonato nacional mais difícil. Mas também é no Brasil que mandam os piores dirigentes desportivos do Mundo, a geração herdeira dos antigos banqueiros do “jogo do bicho”, que ainda se rege por impulsos primários e total irracionalidade na gestão dos clubes, como o demonstra a média de apenas 4 meses de duração de um treinador no seu posto de trabalho. Só o Flamengo teve 27 técnicos nos últimos dez anos, em que não conquistou qualquer título. 

A duração do estado de graça de Jesus é a maior incógnita, perante uma comunicação social sempre perto de resvalar para a xenofobia, e vai depender dos primeiros resultados, em particular a eliminatória da Libertadores com o Emelec, do Equador, já no final de Julho.