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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

A escolha de Jorge Silas para treinador do Sporting encerra muito mais ameaças e perigos do que  lógica e justificação. No fundo, é a entrega da organização ao estagiário, sem qualquer rede de segurança que lhe ampare o salto gigantesco, desafiando todas as boas práticas e fundamentos no recrutamento do quadro mais importante por uma empresa com orçamento na ordem dos 100 milhões de euros.

Uma espécie de all-in à beira da bancarrota.

Frederico Varandas pode vir a revelar o maior treinador português de todos os tempos, repetindo a ousadia de João Vale e Azevedo, quando descobriu José Mourinho e conduzia o Benfica à maior crise de sempre. Mas os factos indicam que apenas metade dessa história trágica deve repetir-se com este salto sem paraquedas no profundo abismo que é o futuro próximo do Sporting.

Silas vai, ao que dizem, acumular o cargo de treinador de um dos principais clubes com as aulas e trabalhos para casa do curso requerido para a função. O Sporting vai ter um trabalhador-estudante na posição mais importante do seu organograma futebolístico, contratando em simultâneo um profissional qualificado para fingir que é o verdadeiro treinador, enquanto as entidades oficiais (Federação, Liga, Sindicato) fecham os olhos ao contorno dos regulamentos.

Silas entra no Sporting como aquele filho do amigo do patrão que passa por cima de toda a gente num processo de recrutamento, num tempo em que currículo imaculado é suposto ser a única vantagem de qualquer profissional que queira subir na vida. 

Quantos treinadores com muito mais qualificações e provas dadas não estarão hoje a tentar perceber o que Silas apresenta para justificar esta aposta?

> Categoria? 

Foi um bom jogador de clubes secundários e terciários, quer a nível nacional, quer internacional, tendo como ponto mais alto a passagem pela União de Leiria de José Mourinho, que lhe valeu até três chamadas à selecção nacional. E foi campeão de Chipre em 2012!

> Experiência?

Vinte meses como treinador a fingir no Belenenses, arrostando a adversidade de uma equipa sem alma, sem adeptos e sem estádio nem infraestruturas, com as classificações de 12.º e de 9.º nos dois campeonatos. 

> Resultados?

Dezasseis vitórias em 66 jogos, uma percentagem de apenas 24% de triunfos, a mais baixa de sempre de um treinador contratado por um clube grande em Portugal ou na China.

> Estilo?

Passa por ser um treinador de ataque, ousado e criativo, mas foi quem registou o maior número de empates em toda a 1.ª Liga no período em que dirigiu o Belenenses, a partir do 0-0 com o Marítimo na partida de estreia em Janeiro de 2018. Gosta de jogar com 3 defesas e laterais adiantados, um dos raros treinadores portugueses a privilegiar este modelo.

> Marcas distintivas?

Ganhou ao Benfica de Rui Vitória e foi o único que não perdeu com o Benfica campeão de Bruno Lage na época passada. E perdeu três vezes com o Sporting, a última das quais por 1-8.

> Momento?

Foi despedido pelo Belenenses à 4.ª jornada da Liga, com apenas dois pontos conquistados e nenhum golo marcado.

Um ano depois de ninguém ter entendido a convicção do presidente do Sporting de que Marcel Keizer, também um treinador sem currículo nem experiência, seria o protagonista da mudança,  volta a ser apenas a convicção de Frederico Varandas a justificar a escolha de Silas. As probabilidades não são favoráveis, é uma aposta de alto risco, as consequências serão devastadoras.

A Lei de Murphy entranhou-se no ADN do Sporting, onde as apostas radicais sempre têm redundado no fracasso anunciado. Mas parece que não há volta a dar.