A qualidade e o bilhete de identidade
Quando um adolescente chega à equipa principal de um grande clube, a certeza é de se estar perante um predestinado, um “fora de série”, como se dizia nos tempos do futebol analógico. O golo de João Felix frente ao Sporting entrou na galeria das raridades, pois há mais de 40 anos, era Fernando Chalana o fenómeno, que ninguém o conseguia.
Felix é o mais recente produto da excepcional colheita de 2018 a bater à porta do futebol profissional de mais alto nível, depois dos colegas Rúben Dias e Gedson Fernandes e dos rivais Jovane Cabral e Diogo Leite. Alguns deles não poderão deixar de aparecer na primeira convocatória da selecção nacional tendo em vista o ciclo do Europeu de 2020 e a nova Taça das Nações da UEFA.
O treinador do Benfica diz que a qualidade se impõe ao bilhete de identidade, pelo que João Felix deve ser considerado neste momento o primeiro avançado de um plantel com défice inesperado de finalizadores e teria de aparecer como titular na Toumba de Salónica. Pelo histórico do jovem jogador perante os desafios que lhe foram colocados nos últimos anos, nem seria arriscado prever que dentro de algum tempo o Benfica fosse Felix + 10. Pelo menos, não terá de nascer mais nenhuma vez nem tentar a sorte como lateral esquerdo.
Não considero que a pressa seja inimiga da afirmação, mas a precocidade de qualquer pessoa exige acompanhamento especial, que a mantenha na linha do sucesso.
Renato Sanches não foi o primeiro teenager a chegar ao topo e a cair com estrondo por falta de protecção e de um plano de vida. Os maus exemplos devem servir para correcções de trajecto e banhos de humildade, porque os jogadores querem-se para 20 anos e não para uma fugaz espiral de desenganos.