A humilhação de João Félix
EFAB⚽LAÇÃO (41)
Chegamos ao fim de julho, a duas ou três semanas do recomeço das competições, e João Félix continua sem clube, sem futuro, sem perspectivas, sem planos - arrastando penosamente o dia a dia da que terá sido a mais mal planeada carreira de um futebolista de primeiro plano internacional.
Desde a sua “explosão” nos seis meses de êxtase vividos com Bruno Lage no Benfica, ele tem estado entregue a uma “entourage” perdulária, do pai ao agente, passando por treinadores preservativos e por “influencers” obscuros que o têm encaminhado por atalhos perigosos rumo a uma lamentável história futura - reprise da velha e gasta epígrafe “ao lado de uma grande carreira” que acompanha a memória de muitos génios sem talento para o trabalho, ainda que mais baratos.
João Félix sem lugar num futebol que Cristiano Ronaldo, seu parceiro na seleção, considera menor e sem qualidade, é uma situação anacrónica, inexplicável, que obriga a alguma reflexão para lá da espuma das lavandarias televisivas onde os jogadores são todos magníficos e dignos de todos os milhões até caírem em desgraça e ganharem o selo de “descartável”.
Existe uma corrente perversa, alimentada por alguns observadores encartados, ainda incrédulos e em negação ao montante recebido pelo Benfica há quatro anos, que se delicia e reconforta com o desperdício, entremeado de fogachos, sobre os relvados das competições mais exigentes, mostrando uma convicção pelas incapacidades de João Félix semelhante ao juízo com que tantos imbecis decretam que a Terra é plana.
A esta inveja primária e irracional, por vezes hilária, que tem acompanhado a carreira do jovem beirão desde que decidiu emigrar antes do tempo certo e para o destino errado, opõe-se agora o pânico perante a possibilidade meramente académica de regressar temporariamente ao Benfica, para tentar relançar o tal percurso ameaçado.
Mas são as mesmas pessoas, as que o consideram um erro de “casting” do Atlético de Madrid, influenciado pelo hipnótico “marketing” do Seixal, um desperdício de dinheiro, um produto do Mendes e dos seus avençados, e as que, agora, atiram lancinantes avisos ao Benfica sobre os perigos da desestabilização do plantel e do desequilíbrio do trabalho de Roger Schmidt - uma tendência alarmista que já tinha acompanhado, ao largo, as negociações para o regresso do velho e ultrapassado Di Maria.
Chega a ser comovente a preocupação com a balbúrdia que João Félix traria ao Benfica, desde a ruína financeira ao caos no balneário - o Neres, o Rafa, os Gonçalos, o Musa, o Schjelderup, o Tengstedt, todos com a vidinha perturbada: Rui Costa, vê lá no que te metes!
E, pelo mesmo diapasão, o ângulo do jogador falhado, se aceitasse dar um passo atrás no currículo: que vergonha, que vexame seria para João Félix e para Jorge Mendes!
É extraordinário como um jogador que há quatro anos apenas dá tropeções e quedas consiga inspirar tanto receio, inveja e desespero entre a turba dos “adeptos” do futebol. O talento de João Félix incomoda e assusta, embora a sua produção não descole da mediania, depois de vários anos sob detenção do torcionário Cholo Simeone, pelo que qualquer equipa e treinador que privilegiasse o futebol de ataque devia chegar e sobrar para lhe endireitar a carreira.
Talvez seja esta a “humilhação” sobre a qual escreve hoje um dos maiores admiradores secretos do Benfica.
FOTO A Bola