12 Jun, 2019
A competência emigra
Luis Castro no Shakhtar, Paulo Fonseca na Roma, André Vilas Boas no Marselha e, claro, Jorge Jesus no Flamengo.
É o momento mais alto dos treinadores portugueses, esta época campeões na China (Vítor Pereira), no Qatar (Jesualdo Ferreira), na Arábia Saudita (Rui Vitória), na Ucrânia (Fonseca), ou altamente cotados em vários países, incluindo Inglaterra ou França - para falar apenas da alta competição, por ser quase impossível descrever as dezenas que trabalham pelo Mundo em projectos de formação. E, claro, sem esquecer os que são selecionadores nacionais como Carlos Queirós ou Paulo Bento com pretensões a títulos continentais ou a disputarem mais campeonatos do Mundo como emigrantes. Nem José Mourinho, um Senador europeu no desemprego, agora animador de audiências televisivas endinheiradas.
Jesus reconheceu que não tem espaço no futebol português. E todos os outros, de Vilas Boas a Pereira, de Jesualdo a Vitória, passando pelos que não foram campeões nacionais, olharam para o futuro e sentiram o mesmo que Jesus: falta de oportunidade para tanta competência.
Sem medo, atiram-se à conquista do Mundo e marcam uma nova era que merecia um maior e mais circunstanciado acompanhamento por parte dos meios de comunicação, não estivessem também estes a atravessar a pior crise económica da sua existência, em parte provocada pela hostilização do futebol, que eles próprios instigaram e alimentaram nos últimos anos.
Os nossos heróis estão emigrando, vencendo a vida, recebendo glórias e tesouros e olhando de muito alto e com algum desprezo para o que se joga longe dos nossos relvados, à janela das televisões ou à porta dos tribunais. Porque eles souberam crescer e evoluir numa direcção oposta, na direcção certa, e são um exemplo para um país desconfiado do sucesso, resignado à mediocridade e insensível ao mérito.