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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

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Empurrar com a barriga é o hábito mais português dos portugueses. Amanhã é outro dia, enquanto o pau vai e vem… Foi assim que o Benfica e a justiça desportiva chegaram a hoje, Janeiro de 2023, e chocaram de frente com o problema anunciado pela revelação dos emails do bizarro quotidiano processual da SAD vieirista e ao conhecimento público do estilo inortodoxo e, comprovadamente, antidesportivo de Paulo Gonçalves à beira-Tejo, como um tubarão em estuário de golfinhos.

Chegou o dia em que o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol se viu entre o abismo da prescrição de crimes de que o próprio Ministério Público ainda não deduziu acusação e a necessidade (ou a vontade) de dar um passo em frente - que consiste no espoletar da bomba atómica regulamentar da pena de descida de divisão para casos de corrupção desportiva.

Rigorosa com os Gil Vicente e Boavistas, mas medrosa com os grandes, a justiça federativa foi repousando sobre a lentidão da justiça comum, tranquila sobre o seu alibi para o inevitável amontoar da injustiça desportiva, que no pior caso, aquele que era preciso caucionar desde o rebentamento do escândalo, pode apresentar uma fatura incobrável de títulos, qualificações, receitas e, sobretudo, memórias para todos os envolvidos directa ou indirectamente. 

Desde o Benfica que teria ganho o que não devia, a todos os adversários que não conquistaram o que estaria ao seu alcance - eis toda uma história de dez anos que é impossível reescrever. Estes podem vir a ser os anos dos asteriscos (*) à frente do registo classificativo.

Sim, eu sei, o Benfica é presumível inocente até prova em contrário.

Mas o que está agora em jogo já não são os factos, no mínimo imorais e pouco éticos, revelados sobre os processos de gestão da SAD de que o atual presidente era vice-presidente. O que emerge de novo é o balanço de três anos, após o afastamento compulsivo de Vieira, sem que os sucessores algo fizessem para atenuar os efeitos desta explosão anunciada. 

O presidente deposto empurrava com a barriga e o herdeiro seguiu-lhe o exemplo, como era expectável. Não foi dado qualquer passo significativo para arrepiar caminho, na sequência da recondução eleitoral da maioria dos sequazes de Vieira, nomeadamente a auditoria profunda e exaustiva à gestão anterior, mas apenas um “all in” no sucesso do futebol, capaz de tudo abafar e todas as mentes alienar, como também e tão mal já fazia o líder original.

O Benfica pode, efetivamente, ser condenado a descer de divisão em caso de condenação em algum dos processos que parecem estar a entrar na recta final. O caos instalar-se-ia na sociedade portuguesa, porque a influência desta instituição ultrapassa em muito o âmbito meramente desportivo.

O Benfica reerguer-se-ia depois de adaptado às consequências desportivas e financeiras do afastamento das provas da UEFA, tal como outros grandes clubes europeus que enfrentaram problemas semelhantes. Mas os efeitos deste processo sobre a Liga portuguesa e seus clubes seriam devastadores, o mais interessante dos quais, para não dizer o mais positivo dos quais, a possibilidade de negociação dos direitos de televisão sem o “obstáculo” encarnado: ficaríamos, finalmente, a saber o que vale o futebol nacional sem o seu abono de família.

Responderão que ainda estamos longe, que é melhor continuar com a barriga encostada ao balcão, a desfrutar do "Schmidtball” e o seu a seu tempo. Que cresça a barriga e continue a crescer!

 

FOTO jogo.pt