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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

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Ao apoiar a futura presidência de Pedro Proença na Federação Portuguesa de Futebol, o Benfica assume a sua voluntária perda de influência nos centros de decisão. Não é uma novidade, pois esse processo vem evoluindo há cerca de trinta anos, desde a presidência de Manuel Damásio, mas ao alinhar com a glorificação do poder vigente, o Benfica capitula e entrega aos adversários a sua natural liderança política, que era, apesar de todas as vicissitudes, controvérsias e incongruências internas, uma reserva de oposição, uma réstia de esperança. 

Segue-se a derrota brutal na questão dos direitos de televisão, que se traduzirá na perda de mais de 30 por cento do seu valor relativo, abrindo mão de uma reserva histórica em nome de um mirífico nivelamento competitivo, a favor de concorrentes sem massa crítica nem capacidade autónoma de acrescentar valor a um mercado futebolístico exaurido e descredibilizado.

Pedro Proença sobe individualmente no elevador desportivo nacional depois de ter feito fracassar rotundamente o seu megalómano programa de projecção internacional da Liga. Não se perdeu tudo, pois ele, pessoalmente, passa a engalanar a galeria dos figurões que o futebol projeta, agora pela organização de um campeonato do Mundo à boleia de Espanha e de Marrocos. 

Durante a sua liderança, a Liga tornou-se ainda mais dependente das performances dos três clubes maiores, não conseguido mascarar a perda de interesse popular pelas provas, com audiências cada vez mais reduzidas e a consequente depreciação dos direitos de imagem - sempre com o Benfica em contra-ciclo, mantendo enchentes do estádio da Luz e um canal de difusão televisiva própria. Cavalga a preguiça do presidente Rui Costa, que não quer avançar contra os outros clubes na auto-estrada da bola e abdica da sua enorme mais-valia, apenas para não se dar ao trabalho de contrariar o “status quo”. 

E falhou igualmente no nobre propósito de salvaguardar a “verdade desportiva” ou, pelo menos, a percepção geral de uma actividade profissional mais transparente e imune às influências das várias famílias de agentes do “mercado”, da arbitragem e das apostas - fugindo de assumir qualquer posição firme em relação aos sucessivos episódios e denúncias de corrupção, violência e batota, sem para coragem para respaldar com firmeza os enormes esforços do Sporting e do FC Porto, em particular, contra a influência criminosa das claques.

O Benfica popular começou por representar uma resistência ao “poder do Norte”, mas a crise interna que abriu caminho ao populismo de Luis Filipe Vieira representou, na prática, a alienação desse capital de independência: os adeptos zangavam-se e contestavam o “Sistema” enquanto os dirigentes se subjugavam alegremente a quem mandava.

É com esta atitude dúplice que o Benfica chega a apoiante entusiástico de antigos opositores encarniçados, primeiro Fernando Gomes - que amestrou os críticos com os sucessos desportivos e financeiros da seleção nacional a reboque de Cristiano Ronaldo - e agora com Pedro Proença, um sargentão graduado em lugar-tenente para todo o serviço.

Como no filme “Dormindo com o Inimigo”, o incumbente apresenta-se com boa imagem, um trajeto público bem-sucedido, com carreira internacional, um sedutor natural capaz de disfarçar o desejo incontrolável de poder, que obriga a “vítima” a adaptar a personalidade para conseguir sobreviver. 

É o que Rui Costa está a fazer ao Benfica, prosseguindo a missão de Vieira de afastar cada vez mais o espírito do clube da sua vivência quotidiana: uma entidade subserviente, permissiva e tola, que se apresta a ceder milhões de euros anuais para patrocinar à escala nacional a receita-padrão do poder no futebol, aprendida na UEFA pós-Platini e na FIFA pós-Blatter, que consiste em distribuir dinheiro e benesses aos mais pobres a troco de votos e obediência. É o chamado Benfica “vai com os outros”…

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“Queremos chegar ao 1.° lugar antes do Natal” - é das frases mais optimistas, a roçar a arrogância, que um adepto do Benfica pode dizer no final deste 2024 em que o clube, no futebol e no resto, evoluiu negativamente em praticamente todos os parâmetros de análise.
Rui Costa, CEO da maior marca nacional, vai empurrando as crises sucessivas com a barriga cheia de um património inesgotável, constituído pelo apoio entusiástico e pelo suporte material e financeiro de uma massa adepta à escala mundial.
Por estes dias, cavalgando uma série de resultados muito melhores que as exibições, com pontos acumulados na Liga dos Campeões e vitórias caídas do acaso no campeonato, o esperto presidente assinou uma rescisão de contrato com o ex-treinador, o alemão Roger Schmidt, por um camião de euros - um acto delapidador das finanças do clube, que em qualquer empresa normal valeria a destituição pura e simples do Conselho de Administração, por indecente e má gestão.
No embalo da crise do Sporting, graças à ajuda do parceiro Frederico Varandas, outro génio da gestão desportiva, o Euromilhões que o Benfica sorteou para Schmidt foi recebido com indiferença e permissividade pela comunicação social engajada com o sistema vigente e, por extensão, por uma massa associativa acéfala e sem capacidade de escrutínio.
Aliás, ainda foi destacado que o alemão podia ter recebido o dobro, mas a providencial capacidade negociadora do herdeiro de Luís Filipe Vieira teria produzido esse milagre de gestão que se traduziu na indemnização de meros 8,7 milhões de euros líquidos, como consequência de outra decisão sem lógica nem racional, que tinha sido o prolongamento do contrato com Schmidt, menos de um ano antes, quando nada o justificava.
Foi por causa desta brincadeira de se “gerir” à grande o dinheiro dos sócios humildes, contrariando os princípios de Joaquim Ferreira Bogalho, que, em cima da perda sucessiva de títulos e competições ao longo destes mandatos obnóxios, só terão sobrado trocos para contratar como salvador da época outro treinador sem dimensão como o bem intencionado, às vezes lunático, Bruno Lage, cujo currículo foi construído sobre o alinhamento cósmico de Jonas, a estrela cadente, com João Félix, o cometa fugaz, em 2019, fenómeno que só aconteceria uma vez por cada Big Bang.
Gastou o orçamento em indemnizações e perdeu margem para contratar um treinador ao nível da exigência e de um plantel com elevado potencial mas cada vez mais desvalorizado, cujos principais activos desportivos são dois campeões do mundo sem valor facial. No Transfermarkt, a equipa do Benfica já vale menos que as do Sporting e do FC Porto - mas nem isso ajuda a baixar a nota das fanfarronices dos amanhãs que cantam na Luz.
O Benfica de Rui Costa será um caso de estudo no futuro, quando alguém quiser tentar entender como um clube com tamanha capacidade de regeneração de talentos nacionais e estrangeiros, com uma mística de vitórias e lideranças, com alicerces fundos e sustentáveis, se entrega à sorte de soluções pueris, aleatórias e tão fantásticas como se o Jett dos Super Wings desse uma ajuda à Patrulha Pata para salvar a grande nau encarnada do Capitão Rodovalho de um naufrágio iminente - papá Lage sabe do que eu estou a falar.
Passar o Natal em 1.° ainda será possível se João Pereira der mais uma ajuda na próxima jornada, mas essa prenda enganaria tanto ou mais que o “bom negócio” que Rui Costa fechou com Roger Schmidt, depois de Rúben Amorim o ter presenteado com o inestimável presente de se ir embora antes da chegada dos Reis Magos.

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Ir a Atenas e não ver os Evzonoi é como ir a um jogo do Benfica e não ver o Pavlidis, mais a sua coreografia de perna alçada, chuteiras com berloque no lugar da mira e cara de quem está a fazer a coisa mais difícil e desengraçada do mundo, condicionado por um calção cheio de pregas que lhe tolhe os movimentos.
Ir ao estádio da Luz e ver um jogo do Pavlidis transporta-nos, então, para a Praça Syntagma onde, a cada hora, vários soldados de “cintura formosa”, os Evzonoi, assim baptizados por Homero na “Ilíada”, nos deliciam com os seus passos acrobáticos de perna elevada a 90 graus, trôpegos mas graciosos, nas suas “fustanellas”, os saiotes brancos de 400 pregas, e calçados com “tsarouchis”, os sapatos turcos de pompom e tacões reforçados para assustar o inimigo.
Na emblemática Syntagma, a rendição dos guardas repete-se a cada hora certa, para gáudio dos basbaques em turismo. Na icónica Luz, a substituição do avançado chega sempre atrasada, para desespero dos adeptos em romaria - porque só Bruno Lage não vê que aquilo não vai lá nem com calçadeira.
Os infantes gregos esforçam-se naturalmente para parecerem ridículos. O avançado do Benfica esforça-se imenso para não ser.
Mas o resultado é semelhante: chutos na atmosfera, inimigos sãos e salvos!
Transformam o simples em muito complicado e deixam a quem os vê aquela sensação de esforço vão e inglório (gratuito em Atenas): ninguém anda como os Evzones em frente ao Parlamento, ninguém troca os pés como Pavlidis à frente da baliza.
Dizem a lenda e a Wikipédia que as 400 pregas dos “kilts” dos soldados helénicos se referem aos anos da ocupação da Grécia pelos otomanos. Pergunto-me se o calção do Pavlidis não terá sido também plissado com as 62 pragas dos anos que já dura a maldição do otomano Bella Gutmann.
Mas, se até os gregos ganharam a Guerra da Independência, pode ser que também o Pavlidis consiga libertar-se…
08 Dez, 2024

Fogo nas padarias

Se todos os treinadores do campeonato fossem padeiros, haveria no final um padeiro-campeão.
Entre João Pereira, Bruno Lage e Vitor Bruno joga-se este ano a gloriosa corrida ao título do quanto mais cozido melhor, em que se tenta passar ao lado de todos os qualificativos profissionais, desde a falta de currículo à falta de carteira, nivelando por baixo em nome da convicção autoritária dos respectivos patrões, a contas com as linhas vermelhas de orçamentos limitados por uma sequência de erros de gestão.
Em tempo de carestia, os padeiros poupam na farinha, produzem pão sem sal e cozem demais a massa.

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Assim fazem os treinadores de futebol mal amanhados quando sentem o quentinho do forno a chegar-lhes ao pêlo: poupam no risco, produzem futebol circular e agarram-se ao resultado, amedrontados pelos infelizes que na bancada agitam lenços brancos como se estivessem numa pizzaria de Nápoles a cantar o “Funiculì, funiculà”.

É neste ponto de cozedura branda que se encontra o Benfica de Bruno Lage, produzindo um futebol-carcaça, empastelado e desenxabido, sem o miolo macio nem o encanto estaladiço das maminhas do clássico papo-seco, capaz de justificar o preço ao balcão apenas pelo leve sabor a “factura” argentina numa fornada ou com o ocasional travo a “bazlama” turca na seguinte. Os ingredientes estão lá, mas a massa carece de fermento e não cresce.
É o que também dizem no Porto, que Vitor Bruno perdeu os papéis da receita da regueifa, o saboroso pãozinho dos domingos, como se a padaria estivesse órfã de identidade, trocando a algazarra festiva das romarias tradicionais por uma procissão burocrática e sensaborona.
De João Pereira, já se sabe, não passa de um aprendiz a pôr lenha no forno, abandonado à sorte de uma iminente explosão da caldeira.

Parece que está tudo mal, com as manifestações e desordens de clientes descontentes às portas das panificadoras da bola, exigindo as cabeças dos oficiais sempre que deixam queimar as côdeas. Parece injusto, considerando que um deles, por mais escarvunçado que fique, acabará por ganhar o prémio de campeão dos padeiros dentro de alguns meses, com a mesma justiça sem sentido com que alguma pastelaria de bairro ganha o prémio do melhor Bolo Rei da cidade.
Primeiro, segundo e terceiro, perdendo, empatando e vencendo, geram insatisfação entre as clientelas, porque jogam mal, não satisfazem, não deleitam, não têm “atitude”.
Primeiro, segundo e terceiro!
Parece irracional, mas já o poeta romano dizia que este é o jogo que agarra o povo à esperança: “panem et circenses”, pão e circo.

 

Foto Record

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Frederico “Willy Wonka” Varandas convenceu-se de ser detentor da fórmula secreta do treinador-chocolate, cujos sabor único e formas originais deliciavam os degustadores de futebol a cada volta ao Sol: “levanta-te e treina” seria o mote para o eterno sucesso desenvolvido e guardado na Academia como receita de doce conventual de lamber os beiços.
A doçaria de Alcochete estava para milhões de sportinguistas inocentes e apaixonados como a fábrica de chocolate de Gene Wilder para todas as crianças do mundo: os jogos que nunca se perdem eram uma espécie de sorvetes que nunca derretiam, gerando jogadas e golos tão admiráveis e saborosos como os ovos de Páscoa ganhavam asas nos pés de Gyökeres, espécie de galifão dos ovos de ouro.
Da inveja pelo sucesso alheio terá nascido, porém, uma espionagem industrial com o objetivo de intoxicar o produto, introduzindo grãos de sal no meio da saca das sementes de cacau - chocolateiros invejosos do outro lado da Segunda Circular, quase de certeza.
Foi assim que um tal João Pereira, o herdeiro escolhido através do bilhete dourado escondido como brinde nos Rebuçados Alvalade, que se separou do Benfica tal como o “Charlie Bucket” original se separou da família para assumir a direção da fábrica de Willy Wonka, acabou por tresler o livro de receitas do bom-bom Amorim e pôs a máquina dos Doces Warandas a produzir pastéis intragáveis, conduzindo-a à ruína e à falência.
Mas sabemos que a história não acaba aqui e que ainda falta o renascimento através do labor persistente dos oompa-loompas, grudados no sabor do cacau, quais oompa-leõões viciados no gosto das vitórias, que também hão de recuperar a receita secreta e produzir novas fantasias e delícias futebolísticas de chocolate verde e branco.
Quaisquer semelhanças entre Willy Wonka e Frederico Varandas são pura imaginação, mas às vezes, a ficção antecipa a realidade. Mas, atenção, só às vezes.

 

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Um ex-jogador lisboeta, castiço, irreverente, provocador, excessivo, reaparece em público após anos de “preparação” na academia dos treinadores sem diploma como se lhe tivessem injectado o elixir da eterna quietude, paralisado, abúlico, de olhos vidrados pelo terror cénico de um estádio em polvorosa.
O João Pereira que conhecíamos ficou na galeria das memórias e renasceu calmo, tranquilo e resignado, incapaz de liderar as pequenas revoluções que quase todos os jogos de futebol exigem.
Isto é o pesadelo do céu a desabar em cima da cabeça dos sportinguistas, ameaçando interromper o que parecia destinado a ser uma dinastia triunfal e imparável, às ordens do melhor treinador de sempre, aqueloutro lisboeta castiço, irreverente, provocador e de excessivas competências que lá residia há tantos e bons anos.
Mas não há dois homens iguais: Rúben Amorim e João Pereira, na fase adulta, são leão e gato.
O novo treinador do Sporting aceitou um desafio temerário, alguns meses antes do que estaria projectado, como carne para canhão às ordens de um general deslumbrado pela inusitada capacidade de “preparar” treinadores campeões em laboratório.
Pode ter sido um “erro de casting” como algumas das suas primeiras decisões nestes jogos perdidos na fortaleza de Alvalade, mas há que dar mais algum tempo para perceber se não foi apenas uma entrada em falso e se, com um toque a reunir, não virão por aí resultados que lhe encaminhem o futuro e justifiquem a excêntrica cláusula de rescisão. O futebol exige prudência na análise e uma grande margem para o inesperado.
Quando surgiu a nomeação, imaginei um treinador na linha de Sérgio Conceição, castiço, provocador, irreverente, excessivo e, também, resiliente, capaz daquele vai-vem repetitivo e perseverante dos seus tempos de lateral direito, que solucionasse situações adversas com liderança e carisma.
Nunca me passou pela cabeça que lhe tivessem mudado o “chip”, como dizem os analistas da bola, agravando à partida o castigo a estar sentado, de braços cruzados, mudo e quedo, proibido de mexer na herança táctica e introduzir o seu cunho pessoal, que lhe decretaram os burocratas da carteira profissional por causa da falta de nível.
Só falta vir alguém, da matilha dos comentadores, em cima deste pânico geral, atirar a bomba sacramental: para a próxima, contratem um treinador!