09 Ago, 2024
Olímpicos mas pouco
Coisas que ainda não mudaram nos Jogos Olímpicos: os americanos dominam o Basquetebol, os chineses não brincam no Ténis de Mesa, os ingleses no Hipismo, os coreanos no Tiro com Arco.
Mas há cada vez mais desafios, ameaças mesmo, à tradição das medalhas garantidas em resultado de apostas estruturadas que os principais países europeus e também a Austrália, o Brasil e o Canadá decidiram fazer em desportos mais adequados à morfologia e hábitos dos seus cidadãos.
À mercê dos “milagres” ficam apenas os desportos democráticos, como o Atletismo ou a Natação, em que impera a lei do mais forte, do mais rápido e do mais ágil, ao momento. Todos podem ganhar, de Santa Lúcia à Namíbia, embora a maioria das medalhas continue rotina das grandes potências.
Ao ver a Suécia bater o pé à China na final de equipas de Ténis de Mesa pensei nos anos de prospeção e trabalho que deve ter levado a construir esta equipa e no momento que levou as autoridades suecas a decidir que tal modalidade oriental seria conveniente aos seus jovens atletas. Eu sei que nos últimos quarenta anos foi desta forma que começaram a construir-se as potências desportivas da modernidade, da Holanda à Austrália, passando pela Espanha e pela França, que paulatinamente vêm ocupando os lugares hegemónicos dos antigos países da Cortina de Ferro. Talvez em 2028 a China perca pela primeira vez no Ténis de Mesa. Talvez em 2028 já não seja possível montar um Dream Team invencível.
Eppur si muove!
Testes rigorosos e científicos na adolescência podem determinar qual o desporto em que determinada pessoa alcançaria melhores resultados em adulto. É isso que fazem na Austrália, país de apenas 26 milhões, que ascendeu do décimo lugar para o terceiro no medalheiro olímpico, em trinta anos: duas medalhas por cada milhão de habitantes, contra uma medalha por cada três milhões de portugueses. Podemos achar que Portugal cresceu cem por cento, de duas medalhas em Atlanta-96 para quatro em Tóquio-21, mas é um copo meio vazio quando comparado com as taças cheias que os nossos parceiros europeus vão açambarcando.
Sem política nem direção desportiva, Portugal só supera, na União Europeia, países como Malta, Luxemburgo, Chipre ou os do Báltico, alimentando-se dos tais “milagres” que acontecem por improviso, fruto de teimosias de alguns dirigentes, como os do Judo, da Canoagem e do Ciclismo, com seus próprios centros de alto rendimento, mas à margem de qualquer definição de prioridades ou objectivos nacionais.
As minhas netas nunca irão aos Jogos Olímpicos. Praticam Patinagem Artística, uma modalidade em que Portugal é historicamente muito forte e que tem dimensão mundial, mas que na hierarquia olímpica se coloca abaixo da Escalada, do Breaking ou do Skate.
Há 30 anos, o Hóquei em Patins tentou fazer parte dos Jogos em Barcelona, mas fracassou redondamente por falta de empenho dos participantes na exibição em Reus, desde as federações aos jogadores. E por isso é um desporto internacionalmente menor, na comparação com o Hóquei em Campo, o Polo Aquático, o Basket de 3 e todos os clássicos de pavilhão.
E, finalmente, temos o Futsal, uma modalidade universal, de alto nível e interesse popular e mediático, que nem se candidata ao programa olímpico porque os Jogos são um estorvo quadrienal ao negócio global da FIFA e seus dirigentes infames, que só lá deixam ir as mulheres e homens de segunda linha porque a faturação de bilheteira e televisão é, mesmo assim, altíssima.
Também podia juntar a esta lista de desportos “sem expressão” de que tanto gostamos o futebol de praia, que não fica a dever ao Voleibol na areia ou ao Rugby de 7.
É, pois, uma ironia desastrosa que nos custa meio século de atraso em relação a Espanha, por exemplo, que além de não elegermos políticas de aposta firme e prioritária na formação em modalidades que nos “assentem” melhor (desportos de mar, de fundo e de resistência, de ar livre como os equestres, o ciclismo ou o golfe), ainda vamos alimentando um isolacionismo nostálgico em desportos que o Comité Olímpico Internacional liminarmente desconsidera.
Ao invés, a Patinagem no Gelo e o Hóquei sobre o Gelo fazem parte do Programa Olímpico de Inverno, porque os respectivos dirigentes, tenho a certeza, são muito mais capazes e influentes.
Não só apostamos pouco, como apostamos mal. Azar o nosso!