Criminosos de cachecol
EFAB⚽LAÇÃO (26)
O pensamento inspirador dos pirómanos encarnados que deitaram fogo ao anel inferior de San Siro é que “as tochas são um espetáculo visual fantástico”, fazendo a apologia do “uso de pirotecnia nos estádios como parte de uma cénica essencial” - uma doutrina irresponsável a coberto de absoluta impunidade, como uma espécie de crime de cachecol, comparável ao estatuto dos delinquentes de colarinho branco que gozam de indulgência social e de negligência judicial.
Aos “adeptos” tudo é permitido, desde os insultos, as ameaças, os distúrbios, as agressões, o tráfico, o furto, a posse de armas, e, claro, o fogo posto. Dir-se-á que é apenas uma pequena parte, uma percentagem que não representa o colectivo, mas os crimes que praticam nas bancadas, ou na via pública, a caminho dos estádios, só são possíveis por cumplicidade dos adeptos “normais”. Porque estes, muitas vezes por medo, fecham os olhos aos desmandos cometidos à sua beira e, nestes casos das tochas e dos petardos, até os aprovam porque ficam bem na “coreografia”.
“No pyro, no party”, dizem os imbecis, para quem o futebol não passa de fonte de ignição para a fogueira do fanatismo tribal.
O que aconteceu em Milão, quando a eliminação do Benfica já estava decretada, não foi um festejo, nem uma manifestação artística, foi um acto de vingança através da tentativa de provocação de danos físicos graves aos espectadores adversários da bancada inferior, ou seja, um inqualificável ataque de cobardes, protegidos pelas barreiras policiais e pelo perverso sistema das “caixas de segurança”.
Cabe à UEFA punir o Benfica com um castigo exemplar, memorável, que obrigue o clube a, finalmente, tomar medidas drásticas e apropriadas à associação de malfeitores que vem acobertando há décadas sob o pretexto falacioso de não ter claques “oficiais”, ou grupos de adeptos, ou bandos de incendiários, ou lá o que sejam estas hordas de energúmenos.
Foi assim, com a interdição dos clubes ingleses às competições continentais, que há mais de 30 anos se interrompeu a vaga criminal dos “hooligans” ingleses e se construíram as bases da Premier League, como pináculo de segurança e imagem positiva do desporto-espectáculo da era digital, enterrando para sempre as memórias terríveis do futebol dos homens das cavernas.
Passaram algumas horas, nem Benfica, nem Liga, nem Federação, se manifestaram sobre este grave incidente - quem cala consente.
Mas serão, certamente, enérgicos a protestar quando se conhecer o castigo sumário que a UEFA prepara - consequência da “síndrome de Estocolmo” que invariavelmente acomete as vítimas dos sequestradores das bancadas.
Foto zerozero.pt