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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

A ex-deputada europeia Ana Gomes não podia ter escolhido um momento mais oportuno para chamar a atenção sobre os negócios do futebol profissional, talvez a única indústria portuguesa com uma balança de pagamentos a ocupar, neste preciso momento, o primeiro lugar num ranking mundial, o das transferências de jogadores.

O “cluster” do futebol, como lhe chamou Michael Porter há 20 anos, é a nossa actividade mais prestigiada, com selecções, clubes, jogadores, treinadores e dirigentes profissionais, sem esquecer os poderosos agentes, a surfarem a maior onda de sucesso de que há memória.

Os movimentos dos mercados futebolísticos internacionais são hoje facilmente monitorizados e analisados, deixando pouca margem de manobra para os hackers amigos da ex-deputada do partido do Governo. Qualquer leigo pode, a todo o momento, verificar os fluxos de dinheiro, as vendas, as compras, as percentagens, as influências. Não deve haver outra actividade económica tão escrutinável, nem sequer a dos mercados financeiros tantas vezes influenciados por negócios fictícios e informações especulativas.

No mercado do futebol, a especulação pode servir aos media, mas tem pouco peso nos negócios. Só o que se compra e o que se vende assume real valor, tudo o resto esgota-se nas mesas de café e nos “chats” da pirataria informática.

Ao fim do primeiro mês do mercado de verão, o futebol português regista um saldo positivo de 209 milhões de euros, de longe o maior entre todos os países. Segue-se a França com 155, já com a venda de Ndonbélé incluída, a Holanda com 101, a 2.ª Liga alemã com 89, a Áustria com 62 e o Brasil com 58. No top 10 das Ligas mais lucrativas no mercado de jogadores, encontram-se quatro campeonatos secundários - além da alemã, também as 2.ªs divisões inglesa, espanhola e italiana.

Mas no plano oposto, com saldos negativos entre vendas e compras de jogadores, são precisamente as Ligas principais de Inglaterra (-298 milhões), Espanha (-297), Alemanha (-210) e Itália (-108) as que apresentam maiores défices. A liga da Rússia é a quinta com mais despesas do que receitas (-52 milhões).

Até ontem, a Liga portuguesa registava quase 300 transferências, com despesas de 75 milhões e receitas de 284 milhões. Com mais uma ou duas vendas de peso, Portugal poderia tornar-se no “campeão” deste Mercado, em 2 de Setembro, embora a transferência de Neymar deva desequilibrar a favor da França, se não houver um investimento semelhante em sentido contrário.

É evidente que os clubes portugueses estão a vender muito bem e a saber comprar: neste momento, o Sporting é o único dos 18 clubes da 1.ª Liga com um evidente saldo negativo entre dispensas e aquisições, mas podendo reverter facilmente a situação quando vender Bruno Fernandes. O Sporting apresenta um saldo de -18 milhões, contra os 144 milhões positivos do Benfica ou os 51 milhões do FC Porto.

Marítimo, Guimarães e Rio Ave também estão no vermelho, mas por margem residual inferior a um milhão de euros, enquanto a soma do lucro dos restantes 12 clubes da Liga NOS, com o Braga à cabeça, ascende a 31 milhões de euros.

No final do século passado, o guru da Economia mundial Michael Porter aconselhava Portugal a apostar no que sabia fazer melhor, como estratégia de crescimento, e incluiu o futebol entre os “clusters” que nos podiam trazer fortes dividendos no novo milénio. Era esperto o professor Porter.

É incrível como, vinte anos depois, ainda temos decisores políticos que não o perceberam.

Pelas minhas contas, somando aos já célebres 120 + 6 + 1,2, os 84 milhões de euros que o Atlético de Madrid vai pagar a João Félix em salários nos próximos sete anos, cada golo que o jovem português marcar ou oferecer aos colegas vai “custar” mais de um milhão de euros.


Teria de estar ligado a pelo menos 30 golos por ano, ou 210 em sete épocas, para produzir, a esse “preço” unitário, os 211,2 milhões que custa toda esta operação inesperada e sensacional.



Confirmou-se que o jogador português mais caro de sempre está agora entre os cinco mais valiosos da história do futebol, mas há uma significativa parte de compatriotas, incluindo muitos no espaço mediático, que não acreditam, não aceitam e não valorizam, seja pelo montante, seja pela modalidade de pagamento, seja pelo envolvimento do empresário Jorge Midas, seja pelo “perigo” de fortalecimento do maior clube nacional.



Tem-se ouvido e lido de tudo nesta mais “silly season” de sempre. Há quem vaticine o desastre para a carreira de João Félix e até quem admita a falência do Atlético e o endividamento do Benfica.



O melhor que os invejosos desejam ao embaixador de Viseu é que se transforme num novo Renato Sanches, um fracassado que aos 21 anos já foi campeão da Europa, tricampeão nacional e pertence há três anos aos quadros do clube mais poderoso da Alemanha e dos mais importantes da Europa.

Há um enorme factor de risco nos negócios do futebol, sabendo-se que apenas 20 por cento dos jogadores transferidos no Verão vão acabar a época com maior valor de mercado. Apenas um em cada cinco “reforços” do mercado corresponde à expectativa e não acaba desvalorizado ao fim de alguns meses.

Esta fórmula aplica-se, aliás, aos mais caros da lista de transferências onde João Félix ocupa agora o quinto lugar.

1. Neymar (222 milhões) vai sair de Paris por metade do preço e sem atingir os objectivos.

2. Mbappé (180m) é o único dos cinco mais caros que vale hoje mais do que há dois anos.

3. Philippe Coutinho (160m) tem as malas à porta em Barcelona e pode servir de moeda de troca.

4. Dembelé (145m) idem, idem.

5. João Félix (126m) aceitou o maior desafio que algum desportista português enfrentou até hoje, num clube e com um treinador que talvez não sejam os mais adequados.

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