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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

30 Out, 2018

Off record

Para os editores actuais tudo o que vêm à net é publicável. Primeira publica-se, depois interroga-se. Todas as toupeiras são de confiança, excepto se forem identificadas e levadas à Justiça.

Sou do tempo em que as corporações de jornalistas se amofinaram contra a publicação de uma gravação do treinador António Oliveira feita sem o conhecimento deste, por um de vários repórteres numa conversa informal, o polémico "off Record".
Naquele tempo, não havia redes sociais na internet e os editores só publicavam matérias com autenticidade, proveniência e contexto conhecidos, comprovados e credíveis. Não havia toupeiras, mas havia jornalistas.

Não defendo a mudança de um treinador no meio de um percurso, a menos que nas análises intermédias se verifique um enorme desvio, pela negativa, relativamente ao projecto e aos objectivos traçados. 

Ora, o Benfica está ainda na luta pela continuidade na Champions League, depois de ter feito o que lhe competia na fase preliminar que obrigou a uma aceleração do processo normal de crescimento de forma, e está também no topo da Liga, mais ponto menos ponto.

Embora muitos tenham visto nos últimos jogos um prenúncio de crise, os índices exibicionais em Chaves (empate), Atenas (vitória), com o FC Porto (vitória), em Amesterdão (derrota) e no Jamor (derrota) foram positivos em muitos parâmetros, com a excepção da finalização. No que toca à eficácia ofensiva, a produção foi claramente insuficiente, sem qualquer golo nas últimas duas partidas, um total de 37 remates sem efeito.

Não me surpreende esta situação, que diz muito sobre os critérios de Rui Vitória, um “homem bom e honrado”, com dificuldade em hipotecar a sua humanidade ao instinto “assassino” necessário ao êxito no desporto de alta competição. Os treinadores que ganham são os que tomam decisões difíceis.

Ora, o treinador do Benfica mostra-se até incapaz de tomar uma decisão facílima de justificar, a rendição de Seferovic, após uma comissão de serviço de urgência.

Já por aqui comentei a impossibilidade de associar um avançado como o suíço do Benfica ao índice goleador necessário a uma equipa que lute pelo título. Bom jogador, excelente atleta profissional, mas quem confiaria nele para uma reviravolta com a equipa a perder por dois golos, como aconteceu frente ao Belenenses? Quem terá conseguido imaginar, ao intervalo do Jamor, que o Benfica iria salvar pelo menos um ponto pela acção decisiva do seu ponta-de-lança? Ninguém. Nem mesmo o próprio Rui Vitória, que acabou por ceder à pressão e passou a segunda parte a insuflar a equipa com mais avançados, matando por asfixia os processos de jogo habituais, não conseguindo construir qualquer situação de golo a partir do momento em que ficou com três dianteiros em campo.

Agradecido pelo socorro que o suíço lhe prestou o melhor que pôde num período de dificuldades, pelas lesões dos outros avançados, Rui Vitória não teve coragem de o afastar do onze inicial, mas a realidade, ao fim de dois meses é esta: 3 golos em 12 jogos. Não é produção que justifique a sua escolha como titular num esquema de avançado único e a equipa pode ter sido seriamente prejudicada.

A propósito, recordo o que escrevi aqui a 30 de Agosto: “Os golos do Benfica surgem nos pés e cabeças de médios e defesas, o que nada tem de errado, mas nunca pode ser tomado como uma garantia de futuro: não dispor de um avançado goleador é caminho para uma crise de resultados.”

Portanto, a primeira resposta de Rui Vitória, já contra o Moreirense e a seguir com o Ajax, passa pela rendição de Seferovic se quiser continuar a teimar no 4x3x3 que tão maus resultados lhe tem dado nos últimos dois anos. Na verdade, uma decisão fácil para um treinador consciente e que só peca por tardia.

24 Out, 2018

Jovic ou Simões

A agenda mediática dita desportiva sempre foi marcada pelo que acontece no e ao Benfica, mas a dificuldade de analisar factos futebolísticos para lá do achismo muito falível, fez derivar a temática para assuntos periféricos.

Por exemplo: os benfiquistas foram surpreendidos por um jogador, que desconheciam em absoluto, ainda ligado ao clube, ter marcado cinco golos num só jogo da Liga alemã. O caso da dispensa de Jovic devia ser, num ambiente editorial sério e equilibrado, um tema de debate bem interessante, ainda mais por ter sido trocado directamente por Seferovic num insólito toma lá, dá cá, com o Eintracht de Frankfurt.

E, no entanto, verifico que nas televisões, Jovic permanece um desconhecido para descanso de Rui Vitória e andam há dias a discutir as ausências de António Simões na Benfica TV.

17 Out, 2018

As contas do Porto

A SAD do FC Porto apresentou contas perante a indiferença dos meios de comunicação e dos comentaristas de plantão, que aparentemente consideram normais as extraordinárias conclusões que qualquer leigo pode extrair da apresentação de Fernando Gomes.

> Desvio de 65% do Orçamento, com um prejuízo de mais de 28 milhões contra uma previsão de 17 milhões;

> Crescimento do Passivo e subida ao 1.º lugar do ranking nacional e, provavelmente, ao 2.º da Europa ultrapassando o Benfica;

> Ultrapassagem em quase 50% do limite de prejuízos imposto pelas regras europeias do fair-play financeiro (28 milhões para limite de 20M), só admissível no âmbito de cláusulas de amortização, infraestruturas e investimento, por benevolência da UEFA;

> Recorde de custos operacionais, ultrapassando o orçamento em quase 15% por cento;

> Custos com pessoal (quase 80 milhões) mais elevados da história do clube e excedendo o orçamento pelo terceiro ano consecutivo, apesar de ter imposto ao treinador Sérgio Conceição um ano sem contratações de jogadores.

Nada digno de grandes comentários, portanto.

No mesmo dia em que a Liga julgou o caso da colagem da tampa da sanita numa divisória do estádio da Luz, no Benfica-Porto, com mais uma multa ridícula, chegava ao fim o processo a dois “adeptos” que lançaram foguetes para o relvado no jogo Metz-Lyon, do campeonato francês em 2016, causando lesão auditiva ao guarda-redes português Anthony Lopes.

O chanfrado mais jovem, de 25 anos, que lançou o foguete, foi condenado a seis meses de prisão efectiva e o outro, de 36, a seis meses de cadeia com pena suspensa. Ambos estão proibidos de frequentar estádios durante cinco anos. E saberão em Dezembro quanto terão de pagar de indemnizações pelos danos causados, a todos os níveis, com o Lyon a reclamar 1,2 milhões de euros.

Seis meses de cadeia, 5 anos de interdição, mais de um milhão de euros de indemnização.

Ouço desde 2003 que a lei portuguesa, recriada a propósito do Euro 2004, é das mais avançadas da Europa e, no entanto, vamos com 15 anos de criminalidade semanal, mais grave aqui e acolá, multas de brincadeira, acusações de terrorismo e condescendência vergonhosa. A lei mais avançada da Europa simplesmente não tem aplicação, queima nas mãos das autoridades.

Depois deste julgamento em França a dois ‘ultras' da claque Horda Frenetik, dois “idiotas que mancham o espírito do desporto e dão uma imagem negativa ao futebol” - no comentário do juiz -, fica a expectativa de observar uma alteração no futuro comportamento desta escumalha.

Lyon e Marselha tiveram recentemente jogos à porta fechada e os indícios não apontavam para grandes transformações, mas acredito que nos próximos tempos esta sentença vá assustar alguns vândalos e aliviar o ambiente.

E é o que faz falta em Portugal, neste momento: a aplicação rigorosa da lei sobre dois ou três imbecis das claques, nomeadamente os que são apanhados a entrar nos estádios com engenhos pirotécnicos.

Segundo os relatórios policiais, nos dois últimos derbis de Lisboa foram detidas 14 pessoas por posse ou lançamento de engenhos pirotécnicos. Na final da Taça de Portugal foram detidas outras quatro. Terão sido todos presentes ao Juiz, mas ninguém sabe o que lhes aconteceu depois, provavelmente andam por aí em acções de guerrilha (e terrorismo) desportiva de fim-de-semana.

 

Pouco mais de uma semana depois do Portimonense-Sporting (4-2), o uruguaio Coates reencontrou hoje o japonês Nakajima e reviveu o pesadelo (“pesadilla” na descrição do comentador da tv sul-americana): o Japão derrotou o Uruguai por 4-3.

Shoya Nakajima tem sido nos últimos dois anos o jogador mais subvaliado do futebol português, mas, no fim, vai transformar-se numa mina de diamantes para o Portimonense. A longa (e misteriosa) espera vai valer a pena, com o milhão de euros gastos até agora no empréstimo e aquisição ao FC Tokyo a rentabilizarem 20 vezes. O japonês tem uma cláusula de rescisão de 20 milhões, o dobro do valor de mercado no início da temporada, mas a conjugação idade-rendimento-procura deve obrigar os candidatos a chegarem ao máximo da oferta.

Neste Japão-Uruguai, Nakajima, de apenas 1,64 m. de altura, jogou com o n.º10, correu, sprintou, fintou, driblou, rematou, esteve na origem dos dois primeiros golos, com um passe de rotura e com um potente remate que Muslera não conseguiu agarrar permitindo a recarga, e foi várias vezes destacado pela realização da televisão japonesa, com grandes planos e clips dos seus lances mais espectaculares.

Há uns meses, fiquei perplexo com a decisão do então seleccionador nipónico, Akira Nishino, de deixá-lo fora do Mundial, depois de ter participado em alguns jogos de preparação, ainda sob a responsabilidade de Halhilhodzic. Mas o sucessor, Hajime Moriyasu, obteve hoje uma resposta que lhe vai garantir o posto no futuro, a começar já na próxima Taça da Ásia, no Turquemenistão, que pode afastá-lo de Portimão durante todo o mês de Janeiro.

Mas ainda mais misterioso é o desprezo dos principais emblemas nacionais pelo melhor jogador da Liga fora dos três grandes clubes, duas vezes premiado com a autoria do Golo do Mês na época passada (Novembro e Fevereiro), excepto pelo facto de ele ser representado por uma empresa nipónica, que o coloca como n.º 1 do respectivo portfólio, à frente de Inui (Bétis) e de Osako (Bremen) - com a qual deve ser muito difícil negociar percentagens e comissões. Deve ser isto, só pode ser isto.

 

Estamos quase todos de acordo: a selecção nacional tem jogado melhor sem Cristiano Ronaldo do que no Mundial da Rússia, apenas três meses atrás. Com jogadores diferentes, novos, sem rotinas, com um sistema táctico alterado, apesar do número escasso de treinos - melhores exibições e melhores resultados.

O que aconteceu nestes quatro jogos, dois deles a contar para a primeira divisão da Liga das Nações, um empate com o vice-campeão mundial e três vitórias, 8-4 em golos, garante que há vida depois de Cristiano Ronaldo.

Mas não dá, para já, nenhuma ideia ou garantia do que será o resto da vida da selecção com Cristiano Ronaldo. Ele regressará em Março, a tempo das eliminatórias do Europeu e da Final Four da Liga das Nações, para retomar o seu posto, de que nenhuma equipa pode abdicar.

Ninguém em seu perfeito juízo poderá imaginar que a equipa fique pior, mas o desafio da reintegração é tremendo, em particular para Fernando Santos. Mantendo o 4x3x3 ou regressando ao 4x4x2 do Mundial? Com liberdade criativa para as outras unidades ofensivas ou regressando à dependência obsessiva de Cristiano como finalizador?

O final da carreira do madeirense não está no horizonte e pode chegar apenas depois de 2022, compreendendo ainda dois ciclos de torneios maiores, um Europeu e outro Mundial. Mas é necessário que todos se orientem no sentido de a equipa depender cada vez menos da capacidade e do génio dele, cabendo ao próprio Cristiano ser o primeiro a reconhecê-lo e a abrir pistas para a melhor solução.

Para já, está em causa a cedência do lugar de avançado-centro no sistema actual, com sacrifício de André Silva, que já é um dos melhores da história da selecção, ou algo de mais vasto com a anulação de um dos médios interiores e o regresso a dois atacantes móveis, como foi utilizado sem grande sucesso no Mundial.

Em Março, veremos qual a solução pensada por Fernando Santos, sob a enorme pressão de manter o nível dos resultados, em particular se a Final Four de Junho (com Portugal, claro!) se disputar em Lisboa ou Porto.

Extraordinário futebol este, em que se pode discutir o papel a desenrolar pelo melhor jogador do Mundo!

15 Out, 2018

Bloggers à rasca

Chegou ao debate televisivo, como uma querela clubística, a queixa do Benfica contra alguns bloggers anónimos que divulgaram correio electrónico devassado e alegadamente comercializado por hackers.

Há clubes, ou pelo menos alguns porta-vozes de clubes, que defendem a manipulação de informação na rede, se for em sentido contrário ao clube rival, nesses sites de nomes difusos e sem autor identificado.

Defendem, 44 anos depois do fim da censura em Portugal, uma prática de guerrilha clandestina, completamente à margem da lei e da democracia. Pessoas muito conhecidas e com grandes responsabilidades sociais aparecem a defender a irresponsabilidade de desconhecidos! Mas com argumentos absolutamente contraditórios e incompreensíveis.

Por um lado, censura-se com veemência a investida do Benfica contra “pequenos” bloggers, uma luta, sem dúvida, desproporcional, que chegou à Justiça norte-americana porque em Portugal não existem mecanismos judiciais efectivos contra a difamação através da internet.

Por outro, alega-se que não existe qualquer anormalidade, muito menos ilegalidade, porque a informação em causa já teria sido divulgada antes nos meios de comunicação, jornais e televisões.

Se os dados da equação fossem estes, não veria razão para a queixa do Benfica, que seria indeferida, mas ainda vejo menos justificação para tanto receio da parte dos bloggers em causa e dos seus defensores.

Pontapé para a frente e para o ar, incapacidade de ligar três passes consecutivos, duelos aéreos a todo o momento, número de faltas muito acima da média e do aceitável. 

O estudo aos 90 minutos do último Benfica-Porto confirma o que a olho nu já se tinha percebido: um dos clássicos mais mal jogados de sempre, do pior futebol que se tem assistido em Portugal neste século.

De parte a parte, embora talvez tenha sido a estratégia portista a primeira responsável pelo que se passou, a par da incapacidade do Benfica para transformar a posse de bola em futebol ligado. Mas ambos os clubes têm jogadores, a quem pagam fortunas, para apresentarem um modelo de jogo mais espectacular e de qualidade, sem sacrificarem o resultado.

Segundo os dados do goalpoint.pt houve 66 duelos aéreos (28 ganhos pelos encarnados, 38 pelos azuis), mais do que um por minuto útil de jogo, o dobro da média histórica deste tipo de lances entre candidatos ao título.

Nenhum outro jogo até agora teve maior percentagem de passes errados, mais do dobro do normal a este nível: 30% para o Benfica, 36% para o Porto, num total de mais de 200 perdas de bola.

Nas bolas longas, o Benfica teve apenas 35% de precisão, o Porto 43%.

Dos cruzamentos, o Benfica concretizou apenas 2 em 16 (13%), o Porto 6 em 19.

Como se a bola queimasse nos pés dos artistas!

No capítulo das faltas, o Porto foi a equipa que assumiu, de início, o jogo mais duro, nos limites, e chegou ao intervalo tendo cometido o dobro das assinaladas. Mas depois do golo de Seferovic a tendência inverteu-se completamente, com o Porto a passar a ter mais posse de bola e o Benfica a calçar as botas cardadas para terminar com mais infracções (24-20) no total da partida.

Estas 44 faltas excedem em quase uma dezena a média geral do campeonato, que já é a mais elevada das principais ligas europeias.

Já sabemos que esta análise interessa muito pouco a quem ganhou e é para ser rapidamente esquecida por quem perdeu. Mas não foi, de todo, uma vitória à Benfica, nem uma oposição à Porto. Ambas as equipas valem muito mais do que quiseram ou conseguiram exibir, num confronto em que prevaleceu a força, o foco no adversário e a concentração absoluta na ocupação dos espaços. Sobrou muito pouco, de talento e de inspiração, para a essência de um jogo de futebol.

Só o resultado conta e até foi justificado pelo que as equipas conseguiram realmente produzir, com o Benfica ligeiramente superior e o FC Porto castigado pela estratégia prioritária de tentar impedir a todo o custo que o adversário jogasse como gosta.

Um dia depois de Rui Vitória ter declarado a ameaça de extinção ao tradicional “inferno da Luz”, chamando a atenção para a sina de maus resultados obtidos pelo Benfica frente ao FC Porto nos últimos 15 anos e colocando a sua dificuldade de inverter a lógica ao nível de um Camacho ou de um Quique Flores, a equipa respondeu com uma vitória de entrega, luta e determinação. Pouco e pobre futebol, mas finalmente o resultado que Rui Vitoria procurava há mais de uma década.

O jovem Ruben Dias e o próprio treinador, ainda que induzidos pela pergunta do repórter da BTV, empolgado pela emoção de um triunfo raro, acharam por bem etiquetar o que acontecera como uma “vitória à Benfica”. E ao mesmo tempo, dentro do recinto, ouvia-se um pasodoble, gentilmente cedido pela filarmónica do Campo Pequeno - só faltou quem lhe chamasse uma "comemoração à Benfica".

A emoção à solta, os desejos reprimidos, a falta de respeito, o amadorismo - há diversas justificações fáceis para as surpreendentes reacções negativas que uma vitória tão importante pode suscitar.

Os adversários de ocasião também gostam de chamar “salão de festas” ao outrora temido recinto. E quando o debate desce o nível, cada resposta consegue ser mais lamentável. Entre gente que se detesta, o mau humor não é uma indisposição momentânea, é um estado de espírito.

Os gostos musicais duvidosos dos anunciantes do estádio da Luz vêm de longe. Reza a lenda que uma vez receberam Pinto da Costa ao som de “Bamboléo”, dos Gipsy Kings, porque achavam que se percebia “Bandoleiro” e a música assim chamada, de Ney Matogrosso, não seria tão propícia à dança.

Há provas de que a música e o desporto andam de mãos dadas desde os Jogos da Antiguidade, exactamente pelo sentido de festa e alegria do espectáculo desportivo. Os clubes da NBA, por exemplo, facturam imenso com os discos da banda sonora dos respectivos jogos, que incluem sempre o toque da carga da Cavalaria, quando a equipa precisa de um suplemento de energia para suplantar a resistência adversária. Mas nunca lá ouvi qualquer som desrespeitoso para os visitantes no final dos jogos, fosse qual fosse o resultado.

Durante largos momentos do jogo de domingo, a minoria de adeptos do FC Porto fez-se ouvir mais que os 50,000 benfiquistas. Até ao golo de Seferovic, aquilo foi mais o “salão de festas” do que o “inferno”, mas ninguém podia esperar que acabasse com a música ambiente da recolha das chocas no Campo Pequeno.

Um golo e uma vitória alcançados na luta mereciam, não digo um “We are the champions”, exagerado nesta altura do campeonato, mas, pelo menos um “Highway to Hell”, que o autor, Bon Scott, remetia para a travessia do deserto (australiano), e que portanto teria duplo significado: que a A1 do Porto a Lisboa voltasse a ser o caminho para o Inferno (da Luz) e também o simbólico trajecto que os benfiquistas certamente desejam aos portistas nos próximos tempos, uma longa travessia de um deserto de títulos.

Mostrar bom gosto musical, sem ofensas e com espírito positivo, seria muito mais “à Benfica” do que qualquer investida tauromáquica. Tal como jogar bom futebol, espectacular e prolífico, também será muito mais “à Benfica” do que o pontapé para a frente e fé em Seferovic que se viu neste confronto entre as melhores equipas do país.

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