Luisão e Nani
Dois episódios estranhos envolveram esta semana os capitães dos maiores clubes portugueses: a despedida de Luisão e a substituição de Nani, uma encenada a obedecer a todos os cânones do politicamente correcto e a outra extemporânea e descontrolada.
Não penso, todavia, que Luisão estivesse absolutamente engajado com a coreografia à porta fechada que lhe prepararam, nem que o destempero momentâneo de Nani correspondesse a uma rebeldia premeditada.
Primeiro, o Benfica tratou de arrumar o incómodo que crescia no balneário pela situação do seu mais emblemático jogador e proibiu a presença de público para não correr o risco de a cerimónia ser prejudicada por uma assistência abaixo do desejável ou por intervenções negativas dos adeptos, em particular contra Rui Vitória, o principal responsável pela reforma antecipada, e contra Luís Filipe Vieira, num momento de popularidade mais fragilizada.
Ao contrário, o Sporting não só nada fez para controlar os danos causados pela leitura dos lábios e da linguagem corporal de Nani, aumentados por vários dias de especulação negativa em blogues e meios de comunicação, como ainda veio censurar publicamente o internacional português numa das mais duras declarações de que me lembro de um treinador criticando um jogador da própria equipa.
Em síntese, o que Benfica e Sporting fizeram foi trazer para a praça pública questões que normalmente ficariam no balneário, porque a dimensão dos jogadores ultrapassa largamente o prestígio interno dos treinadores envolvidos. Estes vieram, assim, à rua procurar o apoio que aparentemente lhes falta no seio da equipa.
Com a razia de defesas centrais no plantel de Rui Vitória, a despedida de Luisão tornou-se rapidamente em cruel ironia do destino. E, se o castigo de Nani fosse para lá do puxão de orelhas de José Peseiro, estaríamos a assistir ao desmoronamento de um dos pilares da nova temporada.
Em ambos os casos, os clubes são os mais prejudicados pelas opções dos seus treinadores, incapazes de encontrar soluções de compromisso, não obstante colocarem a solidariedade pessoal como um dos principais factores de coesão das equipas.