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J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

J Q M

Fui jornalista, estive em todo o tipo de competições desportivas ao longo de mais de 30 anos e realizei o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Agora, continuo a observar o Desporto e conto histórias.

O Benfica olha para Nélson Semedo no Barcelona e para João Cancelo na Juventus, os dois grandes ausentes do último Mundial, tal como vê Oblak no Atlético de Madrid e Ederson no Manchester City, dois dos grandes números 1 da Europa, enquanto passam meses e meses sem conseguir descobrir nem um guarda-redes, nem um defesa lateral direito que lhe dêem sossego.

A discussão em torno de André Almeida está em aberto há praticamente oito anos, muitas vezes à porta da dispensa, mas acabando sempre por fazer vingar a polivalência e o profissionalismo. Empiricamente, os benfiquistas acham que ele cumpre, mas que lhe falta qualquer coisa. Não se sabe bem determinar o quê, mas talvez todos concordem se comprovarem matematicamente que ele precisa do quase o dobro do tempo de Maxi Pereira, Nélson Semedo, Alex Grimaldo ou Fábio Coentrão para participar decisivamente numa jogada de golo (remate ou assistência).

Curiosamente, os seus números são idênticos aos de Eliseu, que também estava longe de alcançar o consenso que recebe hoje o espanhol, pescado nas escolas do Barcelona, onde alguém estava muito distraído. André Almeida é o Eliseu do lado direito, cumpre sem ser especialista, como solução transitória que o tempo transformou em definitiva, enquanto não se descobre um gémeo de Grimaldo noutra escola com professores desatentos.

Se à esquerda os problemas eram causados por falta de formação e scouting, tendo valido a transformação de Fábio Coentrão numa aposta quase desesperada de Jorge Jesus, que resultou em pleno, à direita as soluções foram surgindo em casa, mas não duraram por excesso de qualidade dos jogadores. Primeiro, João Cancelo, que praticamente nem chegou a vestir a camisola, e depois Nélson Semedo, que durou dois anos apenas.

Defensivamente, André Almeida não compromete, estará até ao nível dos antecessores, mas no apoio do ataque, apesar do voluntarismo e de alguns jogos acima do nível, fica claramente a perder quer para Maxi Pereira, quer para Nelson Semedo. 

Ele participa num golo a cada 8 jogos (soma 4 golos e 22 assistências em 197 encontros), o que representa 75% pior do que  Maxi Pereira (21 golos, 45 assistências em 329 jogos) e ainda menos que o de Nélson Semedo (3 golos, 12 passes em 65 partidas).

Se verificarmos que os números de Alex Grimaldo, na esquerda, são igualmente de uma jogada decisiva a cada 5 partidas (3 golos, 9 assistências em 63 jogos), percebe-se a insatisfação e a necessidade de encontrar uma solução mais influente e mais eficaz no jogo ofensivo.

E agora ninguém aposta nos putos campeões europeus, só gostam de argentinos e paraguaios, de nomes terminados em ov e em ic, mais suecos e mexicanos. Esta foi a reacção generalizada após o espanto da descoberta de uma selecção de portugueses que joga ao ataque e não tem complexo perante nenhum adversário.

Campeão da Europa de sub-19 com a maioria dos que já tinham sido campeões de sub-17, Portugal apresenta uma geração de talentos, mais uma, que vai seguramente ter sucesso nos próximos anos. O que não quer dizer que tenham de ingressar todos de supetão nas principais equipas nacionais ou que tenham sequer qualidade e experiência para tal. A verdade é que não têm e muitos não resistirão às dificuldades da mudança de idade e aos desafios do futebol profissional.
Se tudo correr normalmente, a maioria destes jovens jogadores vai estar no próximo Mundial de sub-20 e muitos farão parte da futura selecção de sub-23. Muito menos serão os que vão jogar em clubes de primeira linha. É o processo de selecção natural.
Dos campeões mundiais da chamada geração de ouro, só Figo, Rui Costa, Jorge Costa, João Pinto e Abel Xavier se tornaram regulares na selecção A - e mesmo assim já foi um aproveitamento muito superior ao de todas as outras gerações.
Os grandes clubes têm a prioridade de lutar pela conquista de títulos e para isso necessitam de jogadores adultos, não tendo tempo nem crédito desportivo para apostas que necessitem de muitos jogos para alcançarem tal nível, mas nunca deixarão de desenvolver e aproveitar os que conseguirem responder à exigência. São até cada vez mais competentes nessa avaliação.
Os adeptos que hoje reclamam um lugar na equipa do Benfica para João Filipe talvez nem saibam que ele está na fila de espera, um lugar atrás de João Félix, que também podia ser campeão europeu se não tivesse já atingido o patamar superior, tal como Gedson e mais alguns de outros clubes (Dalot, Leite ou Leão). Nem os campeões europeus do Sporting de Braga terão essa facilidade. Nem os do Porto, os do Sporting, o do Arsenal, o do Wolverhampton. Terão oportunidades, mas não facilidades.
Excepto raríssimas excepções, um jovem de 19 anos está ainda longe de poder render ao nível de uma equipa de alta competição. Por isso há escalões intermédios, equipas B, equipas sub-23 e toda uma sequência de etapas que confirmem os indicadores fornecidos nos escalões mais jovens, com a certeza absoluta de que muito poucos, talvez dois ou três, vão ter dias ainda mais felizes do que o de ontem. Um enorme desafio, portanto, e não uma vida de facilidades, eis o que espera a todos.

     O Captain ! my Captain ! our fearful trip is done;

    The ship has weather'd every rack, the prize we sought is won;

    The port is near, the bell I hear, the people are exulting…

 

    Ó Capitão, meu capitão! Terminada está a terrível jornada,

    Vencidas todas as tormentas, está conquistado o prémio que buscamos

    O porto está à vista, já ouço o sino e como o povo exulta…

 

Longe de mim ousar traduzir Walt Whitman, o grande poeta do sonho americano, mas não podia deixar de me lembrar deste marco da literatura perante o pequeno dilema sportinguista com a questão dos capitães da nova equipa - a dramática sucessão de Rui Patrício e William Carvalho, que, tal como na descrição do poeta, também “tombaram, frios e mortos” no convés, lutando contra as adversidades.

É um bom sinal que, mesmo assim, a terrível tempestade esteja ultrapassada, que a grande nau esteja a chegar a bom porto, olhos postos na recompensa, com o povo em festa e os sinos a repicar. E que se possa tranquilamente entregá-la a novos capitães.

É o Sporting verdadeiro a regressar da aventura mais perigosa, com mazelas, mas são e salvo. Com renovadas e frescas lideranças, como é necessário depois de cada acidente de percurso.

Nani é consensual pelo estatuto e pela ligação umbilical e não deve tardar a assumir-se como líder do balneário.

Mais complicado é o reconhecimento de Bruno Fernandes: nem estatuto, nem histórico de clube, apesar de ser o melhor valor individual do plantel. Não é consensual fora do balneário, por causa dos acontecimentos do defeso, mas o treinador procura insuflar-lhe confiança e responsabilidade com a maior brevidade.

Coates é um jogador admirado, mas muito discreto. Se tem perfil de capitão, só a equipa sabe, mas nesta fase de exteriorizar uma atitude impositiva e de força, talvez não seja o mais indicado.

Mathieu será outra possibilidade, na mesma linha discreta de Coates, como jogador estrangeiro que defende prioritariamente a sua posição e a sua carreira, sem aprofundar a ligação ao clube.

E, finalmente, Bas Dost, que pode ter a vantagem de ser o dissidente com maior aceitação no coração leonino, assim recomece rapidamente a marcar golos. É também o jogador de maior prestígio internacional, a par de Nani.

Como diriam em outros clubes de poetas, “Sporting, Carpe Diem”.

A faltarem 30 minutos para terminar o teste com a Juventus, muito importante para a confiança do Benfica na última fase da preparação desta época, o meio-campo encarnado frente ao poderoso multicampeão italiano ficou entregue a Alfa Semedo, Keaton Parks e Gedson Fernandes.

Alfa de 20 anos, Parks quase a fazer 21 e Gedson de 19, que estava a jogar desde início e teve de sair antes do final por problemas musculares.

E, à frente deles, ao lado do avô Jonas, ainda João Felix, de apenas 18 anos, além dos já “confirmados” Ruben Dias e Yuri Ribeiro, ambos de 21.

Longe vão os tempos em que os jovens do Benfica tinham de nascer dez vezes para chegarem à primeira equipa e jogarem sem inibições, batendo-se com os adversários mais fortes da Europa.

É sinal de um trabalho de enorme qualidade no Seixal, que culmina na entrega dos melhores a um treinador envolvido na conclusão do longo processo de crescimento que se segue ao “nascimento” aos olhos de uma notável rede de prospecção. Com paciência, tempo e a consciência de que basta promover um jovem por ano à equipa principal para justificar todo o investimento.

Os adeptos do Sporting que sentiram tanto orgulho pelo número de jogadores da sua formação que fizeram parte das selecções do Euro-2016 e do Mundial-2018, estão agora confrontados com uma autêntica purga a acontecer neste defeso, com 10 atletas já afastados da equipa principal, seja pelo processo de rescisões, seja pela selecção desportiva de José Peseiro.

O Sporting 2018-19 poderá ser o que menos jogadores formados na Academia apresenta na história do clube. Para já, apenas cinco: Maximino, Matheus Pereira, Mané, Jovane e Nani, dos quais nenhum esteve no plantel da última época.
De saída, os dissidentes Rui Patrício, William Carvalho, Gelson, Podence e Rafael Leão, mais os emprestados Geraldes, Gauld, Palhinha, Demiral e Domingos Duarte.
É uma marca que desaparece na equipa leonina, agora com uma prevalência de jogadores estrangeiros, na esteira dos seus principais rivais. E com os problemas evidentes no sector da formação, com a equipa B a ser extinta depois de ter descido de divisão, bem podemos estar perante uma mudança de paradigma e não apenas uma situação conjuntural.

O próximo jogo europeu do Benfica, com o Fenerbahce, das pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, será transmitido na televisão do clube, BTV, uma situação inédita em Portugal, embora já não seja a primeira a nível continental: ontem, o jogo Celtic-Rosenborg, da segunda pré-eliminatória, foi transmitido também na Celtic TV, constituindo um marco na história do futebol profissional, ao mais alto nível.

Com esta permissão, está, portanto, a UEFA a chancelar uma situação absolutamente normal em muitas outras modalidades a nível mundial e mesmo em Portugal, onde cada vez mais clubes promovem as suas edições de streaming, para lá dos canais já existentes no cabo que transmitem todo o tipo de jogos, excepto os da equipa principal, cujos direitos não lhes pertencem, por opção económica.

É também uma derrota para os monitores de escândalos, que vislumbram indícios de corrupção em tudo o que não controlam e contestam quotidianamente essa opção do Benfica, sugerindo favorecimento e até manipulação desportiva, pondo em causa o profissionalismo e independência dos produtores que também trabalham para eles nas transmissões das equipas B ou do futebol juvenil ou modalidades.

Não há nada de desportivo ou antidesportiva neste negócio. Apenas economia.

Por mais benefícios comuns que se possa ver na venda de direitos em conjunto, pelas Ligas, alguns clubes são tão grandes em relação ao mercado em que se inserem, que nunca poderiam ser ressarcidos dos montantes de que teriam de abdicar e, pelo contrário, estariam a inflacionar o mercado com valores incomparavelmente acima do que se justifica para os clubes mais pequenos.

É o caso do Benfica em relação ao mercado português e do Celtic em relação ao mercado escocês e irlandês.

A evolução dos direitos televisivos do futebol e do desporto em geral vai, necessariamente, ter uma inversão dentro de poucos anos, pois a concorrência da distribuição dos canais de streaming, em Portugal conhecidos por “canal Inácio”, está a subverter completamente a lógica de cobrar ao consumidor o valor entregue aos clubes. O consumidor faz tudo para não pagar nada e ter à disposição muito mais do que qualquer canal comercial pode oferecer e está a vencer esta batalha, com a ajuda dos sites de apostas, estes sim financeiramente fortes para suportarem o pagamento dos direitos.

Por outro lado, os custos de produção baixam de tal forma que qualquer um hoje pode fazer uma transmissão e até já começam a surgir no Facebook e no Instagram directos selvagens que se tornaram igualmente impossíveis de controlar e que não visam outros objectivos que não sejam os de divulgar para nichos de mercado ou núcleos de simpatizantes.

 

O FC Porto acaba de realizar uma das melhores contratações do ano, do jovem defesa Éder Militão, do São Paulo, ao mesmo tempo que protagonizava dois negócios estranhíssimos com o Portimonense, envolvendo os também brasileiros Paulinho e Ewerton, contratados por milhões e depois recambiados como mercadoria desvalorizada. 

Como diria um antigo presidente de clube famoso pelo valor que dava ao escudo, um milhão é um milhão, mas há milhões e milhões. Os milhões de Militão têm valor facial. Os milhões de Paulinho e Ewerton têm valor ficcional.

É inexplicável que o mesmo scouting que aposta e consegue garantir um dos melhores jovens brasileiros da actualidade, actuando num campeonato distante, possa cometer tamanhos erros de avaliação de jogadores que estão entre nós e disputam o mesmo campeonato.

De Militão vamos ouvir muito no futuro. Com apenas 20 anos é considerado o melhor jogador do 2.º classificado do Brasileirão: forte, rápido, tecnicamente evoluído, versátil (central, lateral de ambos os lados ou médio centro) e, sobretudo, muito barato. O Porto paga ao São Paulo (4 milhões) praticamente metade do que aceitou dar ao Portimonense por Ewerton (7 milhões) ou Paulinho (5 milhões). Não consideramos nestas contas comparativas os valores distribuídos pelo “staff" do jogador (3 milhões) e pelo próprio Militão (3 milhões), decisivos para garantir o negócio, porque não temos forma de saber o que se cobra à margem desta intensa relação do Portimonense com o FC Porto.

Portanto, Militão foi extremamente barato porque queria tanto vir para o FC Porto e a Europa que recusou nos últimos meses um prémio de 4 milhões de euros para renovar com o São Paulo, e mantinha um desempenho excelente embora sendo o jogador titular mais mal pago do clube brasileiro.

E Ewerton e Paulinho seriam extremamente caros, atendendo a que nem um nem outro eram pretendidos por outros clubes grandes, nacionais ou estrangeiros.

O que estará realmente em jogo neste negócio com os algarvios, que desencadeou até a encenação de um episódio de indignação do presidente da SAD algarvia, compreender-se-á melhor dentro de meses, talvez no final da época.

A expectativa é que, por essa altura, Militão já esteja na seleção do Brasil e seja pretendido por grandes emblemas europeus, dando um lucro ao nível de Malcom ou Richarlison, cujos passes valorizaram dez vezes em apenas um ano. E onde estarão e quanto vão valer Paulinho e Ewerton?

23 Jul, 2018

De volta à TVI

Dizem que não se deve voltar onde se foi feliz, mas eu discordo e hoje retomo a minha colaboração com a TVI, interrompida há cinco anos com grande pena minha, por causa de um compromisso com outro meio de comunicação.

A TVI, onde entrei em 2003, é a sexta empresa a dar-me uma segunda oportunidade, conhecendo bem os meus defeitos e qualidades, anos depois de terminada uma primeira ligação. Fui colaborador da estação entre 2003 e 2013, a mais longa ligação sem interrupção que mantive com um órgão de informação ao longo de uma carreira profissional muito diversificada.

No Record, onde tudo começou há 40 anos, ingressei (e saí) cinco vezes, com os Directores Monteiro Poças, Rui Cartaxana, João Marcelino, Alexandre Pais, acabando eu próprio como diretor do jornal.

No Golo (Impala), comecei com o meu primeiro mentor, António Capela, sai e voltei três anos depois, embora por pouco tempo.

Na Gazeta dos Desportos, idem, saindo como redator e voltando como chefe de redacção adjunto, com o grande diretor Joaquim Queirós.

No Expresso, estive como colaborador e voltei ao fim de alguns meses como Editor de Desporto.

Na TSF, fui pirata nas Amoreiras com o António Macedo e colaborador permanente, anos mais tarde, na Matinha com o Mário Fernando.

Também do Comité Olímpico de Portugal, onde estive cinco anos, entre 2003 e 2008, tive um convite para regressar um ano após o ciclo de Beijing, que infelizmente não pude aceitar.

Reflito sobre este trajecto, após quase quatro anos sem trabalho, e sinto que não podia ser de outro modo, com orgulho por ver que as portas nunca se fecharam atrás de mim, mesmo sabendo que não sou fácil de aturar.

Desculpem a nota pessoal, mas este é realmente um dia importante para mim. Na TVI24, com uma equipa de excelentes profissionais, a partir de hoje às 22 horas.

Quando os sorteios da UEFA ainda não se tinham transformado no evento formatado para os burocratas da bola que são hoje, ser “enviado especial” a Zurique para acompanhar o pontapé de saída das competições europeias era uma oportunidade rara e soberana para a carreira de qualquer jornalista desportivo. 

Em nenhum outro momento era possível reunir à mesa, no então chamado jantar dos presidentes, os líderes do futebol português Fernando Martins, Pinto da Costa, João Rocha, Valentim Loureiro, Pimenta Machado, os primeiros empresários, Manuel Barbosa e Lucídeo Ribeiro, o presidente da FPF, Silva Resende, e os jornalistas, com realce para o João Alves da Costa.

Confesso uma indisfarçável nostalgia nesta evocação por dois motivos nobres que a própria UEFA destruiu ao transformar as competições de clubes no negócio que hoje é: o destaque premiado aos melhores de cada país e a convivência entre dirigentes, jornalistas e às vezes treinadores de todos os países em encontros informais sem o verniz das galas para elites.

Quando se assiste agora aos sorteios de pré-pré-eliminatórias, 2ª pré-eliminatória, 3.ª pré-eliminatória, e, em exclusivo surreal da UEFA, a playoffs antes de começarem as competições propriamente ditas, entende-se que isto nada tem a ver com a essência destas provas, agora sexagenárias como eu.

A necessidade de distribuir o excesso de lucros que os direitos televisivos estão a gerar, contentando as federações menores com uma parte do bolo, criou este monstruoso “verão de malucos” que faz movimentar dezenas e dezenas de clubes nestes 45 dias de Julho e Agosto, quando os melhores jogadores ainda estão de férias, em disputas cuja única consequência desportiva é provocar dissabores e graves problemas de equilíbrio para resto da época aos clubes grandes inadvertidamente envolvidos, como acontece com o Benfica na Champions e com o Braga na Europa League.

Nos bons velhos tempos, todos sabíamos quem eram os campeões, quem eram os vencedores das Taças e quais tinham ficado nos lugares de honra dos respectivos campeonatos. Não havia campeões faz de conta como acontece com mais de metade dos participantes na Liga dos Campeões actual. Era inimaginável alguém estar a assistir a um sorteio sem saber se determinado clube é campeão ou está de favor, como me interrogava eu perante o desfilar de emblemas no sorteio de hoje.

Parece-me necessário (e inevitável) que a UEFA regresse ao seu lugar de confederação continental e se concentre na parte desportiva que é a sua razão de existir. A UEFA tem de voltar a promover uma prova só com os campeões de todos os países e deixar a organização de uma Superliga comercial aos próprios clubes. 

No fundo, sinto saudades do tempo em que, no primeiro sorteio, se usava a designação de “pêra doce” para quase todos os adversários iniciais dos clubes portugueses. Agora, não há pêras doces, só ovos de ouro.

22 Jul, 2018

Cintra mais 10

Com Sousa Cintra no papel de jogador-treinador, como nos bons tempos da velha guarda, o Sporting trabalha afanosa e incansavelmente na constituição do plantel para o jogo decisivo de dia 8 de Setembro.

O scouting não distingue berços, famílias, academias, turmas, contas bancárias, profissões ou grupos de pressão: os candidatos chovem de todo o lado. Algumas negociações estão complicadas, outras no segredo dos deuses, mas todos estão em cima da mesa, todos querem somar.

Neste momento, ainda longe do fecho do mercado, a equipa-tipo seria a seguinte:

> À baliza: João Benedito, com muita experiência do lugar, elástico e seguro, com vontade de agarrar tudo o que mexe e espírito de amor à camisola.

> Nas laterais: a prata da casa. 

À direita, Bruno de Carvalho, canela até ao pescoço, sempre a fazer piscinas para baixo e para cima, às vezes meio perdido em campo e a arriscar castigos disciplinares pelas suas entradas a pés juntos.

À esquerda, Carlos Vieira, mais habilidoso e calculista, gosta de ficar atrás, avançando só pela certa.

> A centrais: bem instalados na vida, jogando de cadeirão, preocupados em não dar grandes fífias, Dias Ferreira, o veterano capitão esforçado, dedicado e devotado a muitas batalhas inglórias, e Fernando Pereira, o típico quarto defesa que não compromete, discreto, durão e trabalhador.

> A médio-centro: o próprio Sousa Cintra, à Jorge Perestrelo, com a sua barriguinha sempre a mostrar como se faz, recupera, prepara e distribui, e fala em todas as flash interviews e conferências de imprensa.

> A box-to-box: Madeira Rodrigues, jogador ambicioso, com tendência a dar passos maiores do que a perna e a pisar na bola.

> Médio polivalente: Frederico Varandas, capaz de jogar em várias posições, jogador com escola e muita experiência de campos de batalha.

> Avançado centro: José Maria Ricciardi, velha raposa da grande área, sempre à espreita de uma oportunidade para facturar. Ainda está a negociar o novo contrato.

> Nº 10 e estrela da companhia: Luís Figo, jogador de outro campeonato, com estatuto de dono da bola, cuja presença em campo acaba por ofuscar todos os companheiros.

> A ponta esquecida: Zeferino Boal.

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